juro que foi a primeira vez na minha vida inteira em que pensei num aniversário de outra pessoa antes de me lembrar de que é que haveria de comer, ou de que horas seriam, ou se me apetecia dormir mais um pouco.
o meu bebé tem cinco anos.
ontem levei meia hora a dissertar sobre as alegrias desta criança na minha vida, acho que ultrapassei os limites de babada e cheguei mesmo a ser chata.
ele não é meu filho, nem é como se fosse - é meu primo, do meu sangue..
para além daquele cliché - mudei-lhe fraldas, dei-lhe banho e biberões - eu estava lá na primeira papinha dele. mais, eu estava lá quando ele deu os primeiros passos! eu tinha estado no brasil para passar o natal e o fim-de-ano com a outra família, cheguei e fomos ao corte inglés ver tapetes, eu peguei num letreiro com o preço que ele queria atirar ao chão e pu-lo do outro lado, e lá vai o meu grande sacana a andar por ali fora!
ele gosta tanto de mim que até me chama mana - mas não é só um nome, é o que eu sou.
e era assim que eu lhe chamava, antes de ele chegar ao tamanho que tem, o meu bebé.
tirei algum tempo para pensar no que haveria de colocar nesta lista. fiquei um bocado confusa porque há mil coisas que quero fazer para o ano, mas não dependem exclusivamente de mim - e se não forem para o ano, serão para o seguinte, tudo vai da maneira como as coisas se desenrolam.
mas há uma coisa que depende apenas de mim, livros. este mês senti-me extra-inspirada para ler e, mais que isso, para reunir na minha mesa de cabeceira os meus próximos alvos.
entretanto, descobri Anaïs Nin. já tinha ouvido falar dela mas resolvi-me a comprar um livro dela para oferecer no natal, que acabou por ficar na minha posse. passarinhos. pequenos contos eróticos.
através dela, cheguei ao Henry Miller, que escreveu o Sexus, o Plexus e o Nexus, obrasque há uns meses o meu tio me aconselhou a ler. também há um filme sobre eles os dois, que foram amantes, baseado num livro de Nin. ele também escreveu o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, que estão aqui na estante da sala, lidos pela minha mãe sabe deus há quantos anos.
sabe tão bem este formigueiro na barriga, esta vontade de devorar livros, que tenho pena de não poder passar um dia inteiro a ler. ou, reformulando: tenho pena de não ser preciso lê-los para a faculdade.
portanto, o meu desejo para 2012 é ler estes livros: 1. John Chauffeur Russo, de Max du Veuzit - foi um livro que marcou a adolescência da minha avó e que ela fez questão de oferecer à minha mãe que, por sua vez, me ofereceu há umas semanas. 2. Dom Casmurro, de Machado de Assis - este mandou-me o meu tio por ela, não sei muito bem do que trata mas li intriga, amor e ciúme na contracapa, o que já me convenceu.
3. 1822, de Laurentino Gomes - foi o meu tio que mo ofereceu no meu 19º aniversário, comecei a lê-lo no mês passado. é um livro histórico sobre a independência do brasil, e foi por isso que me convenceu. pensei que a leitura ia ser um bocado cansativa, mas a verdade é que estou a adorar. 4. Marina, de Carlos Ruiz Zafón - tenho lido às mijinhas, principalmente porque está em espanhol e, à hora de deitar, o meu cérebro costuma estar mais lento, mas queria terminá-lo o quanto antes. 5. Del Amor y Otros Demonios, de Gabriel García Márquez - este também em espanhol, não faço ideia sobre o que trata, nem preciso. se é do meu gabriel, gosto. 6. Canção de Amor em Dez Andares, de Richard Milward - emprestou-mo um amigo meu que, quando o estava a ler, mandava-me aleatoriamente mensagens com excertos hilariantes. já comecei, e é este que tem sido o protagonista nos últimos dias. 7. Contos Completos, de García Márquez - ofereceu-me o alex nos anos. nele estão quatro obras: Os Funerais da Mamã Grande, A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da Sua Avó Desalmada, Olhos de Cão Azul e Doze Contos Peregrinos.
8. O Diário de Anais Nin, Volume I.
9. um que me ofereceu a minha tia, cujo nome infelizmente não me recordo e que está ainda na estante à espera de ser comido.
10, 11, 12, 13 e 14 - os do Miller que referi acima
parece-me desafio suficiente para o ano que se aproxima, tendo em conta outros que terei de ler para a faculdade. pouco mais que um por mês, a ver vamos se sou capaz...
hoje éramos dois crescidos e um pequenote, que levámos a ver o rei leão e que não nos deixou tocar nas pipocas até começar o filme. numa altura de grande tensão do filme, diz "isto nunca mais acaba!..."
é quando decido que me quero fechar em casa que noto que há muita coisa a ser feita: presentes para preparar, ir à segurança social, levar o cão ao veterinário, colar fotografias na parede do meu quarto, fazer o cachecol de tricot, digitalizar aquelas fotografias que já estão na to do list há meses, arrumar o quarto, fazer o máximo de trabalhos possível até ao natal para me sentir descansada...
normalmente tenho sempre tanto que fazer mas, quando arranjo tempo, parece que me esqueço e às vezes deixo para depois. para depois quando?
obrigada nosso senhor pelo fim-de-semana que está a chegar. ainda bem que fizeste o mundo em sete dias, ainda bem que sete dias são uma semana e ainda bem que uma semana não chega para nada.
mal posso esperar pelas férias. tenho muito que fazer, mas só o facto de poder dizer que estou de férias já me torna a mulher mais feliz... do bairro?
de qualquer das formas, hoje vou sair. detesto sair quando há obrigações adjacentes.
hoje obrigo-me a pavonear-me por aí feita snob. la vie boheme, como te desejo!
14.12.11
depois de dois meses de aula de canto, ora aqui está uma coisa que me deixa genuinamente orgulhosa e feliz:
depois questiono-me se isto realmente será para mim: faculdade e até coisas triviais do dia-a-dia, porque só as sabemos triviais já que as vemos nas vidas alheias e até no grande ecrã.
e a quem é que posso fazer as mil e uma perguntas que tenho para colocar? quem é que me sabe responder?, se ninguém as tem sequer?
sinto-me um tanto ou quanto perdida e estúpida, meus senhores. se calhar a resiliência vem em doses esporádicas que eu já esgotei noutros momentos.
já não me lembrava desta sensação. é aterradora.
e é por isso que qualquer momento bom me soa a música de alta qualidade, sabe-me a mel - mas não da maneira que costumava ser.
emoção estagnada,
depois questiono-me se fui feita para isto, gostava que sim.
é à meia-noite que se dará a transformação do terrível monstro em mim.
ainda há dois anos escrevia eu sobre as angústias e felicidades dos 18 e, de repente, noto que já estou nos 20, prestes a dar início à minha terceira década de vida. acho que é a primeira vez que não tenho nada de especial a dizer, fazer anos é fixe mas já é só mais um ano.
_o que é que queres para o natal? perguntou-lhe ele. simplesmente isso. não, não foi só isso. _o que é que queres para os anos? ou para o natal? foi mais assim. _não sei, qualquer coisa simbólica, não precisas de gastar muito dinheiro - como é óbvio! irritam-lhe aquelas pessoas que dizem que não importam os presentes, ela acha que estão a mentir e não deve ser a única. adora receber presentes e faz questão que lhos dêem, assim como adora dar às pessoas de quem gosta muito. não é materialista, a verdade é que só quer que o presente seja uma memória forte para quando for mais velhinha: um postal, um desenho, um passeio, algo que não exija custos financeiros. algo que marque.
_quero sentir a tua presença quando entrar nos vinte anos.
_vou dar-te um filho. (um filho, uma coisa nossa, embora haja mil outras coisas que possam ser só nossas e tu estás a ir demasiado longe.) entretanto, pôs-se a fazer contas de cabeça, realmente era algo que lhe podia dar sem muito custo, mas e ela?
_isso a longo prazo vai custar-me dinheiro, muito!
_e se eu te desse um carro, ias reclamar só porque te ia custar gasolina?
_dá-me um carro e logo vês.
_sai-me caro... sabes que não tenho dinheiro para isso.
_um carro vale mais que uma vida?
_é claro que não.
_então, com a mesma facilidade com que punhas uma vida no mundo, põe antes um carro! ou uma piscina. sim, uma piscina! não me importo de parir uma pequenina, enchemo-la todos os dias, daqui a uns anos é grande e podemos ser felizes para sempre!
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato."
ÁLVARO DE CAMPOS
começo a conhecer-me,
com o stress e a pressão, uma pessoa aprende a ser muito mais modesta e humilde face à vida; o espaço que deixei cativo para o telemóvel que ia comprar, ocupei-o com um chocolate quente ao fim da tarde. a sensação que achava que ia ter por ganhar o totoloto encheu-me a alma quando tocou a minha música preferida na rádio. rezava a deus para que conseguisse o emprego que quero, agora deixa-me bem mais descansada enrolar-me nos meus cobertores quentinhos e saber que os tenho sempre aqui à minha espera.
e tenho escrito mais, sei lá, eu acho que sei, digo que é porque a energia que ia estoirar desrespeitosamente com uma saída à noite tem de ser salpicada algures, e não é no papel porque custa mais - só custa mais hoje, porque estou feita um caco, nos outros dias pode ser como mais jeito me der - e o computador estava mesmo aqui, já agora uma música. não pode ser uma qualquer, tem de ser bem escolhida para não me cansar nem me entusiasmar demasiado,
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
na verdade, ninguém me pode dizer a verdade, porque para mim é assim e tenho todo o direito de fechar os ouvidos ao que me apetecer. o que é que me apetece? não me importava de ir fazer tricot, mas apetece-me? que bom, que bom poder dizer-me
"não és obrigada a nada, faz só o que te motivar a levantar esse rabo daí, o mundo continua a funcionar perfeitamente sem ti"
e neste momento noto que não o digo com dor nem com tristeza, mas sim com um certo alívio. e respondo:
"essa foi a coisa mais bonita que já ouvi, agora posso estar descansada e deixar o resto para os restantes"
porque se fico a não contribuir em nada para a órbita da terra, isso a ninguém diz respeito. sinto-me até rebelde.
"tomem todos, não vos estou a servir para nada"
somando-se quiçá umas asneiras, que não as digo, mas agora sou só eu e a minha micro-sociedade, eu e os meus pensamentos, e convivemos perfeitamente em regime de anarquia.
"o meu nome é maria e sempre fugi deste momento. estou a fazer a cadeira de inglês III pela terceira vez e sou gay."
o desafio da apresentação oral de inglês é falar da pessoa que mais nos influenciou. é para muita gente um momento de partilha mais profundo - um pai ou uma mãe que morreu, o primo que foi atropelado, a tia que tem cancro... acho que cada um faz como entender. eu não sentia a menor necessidade de falar do meu pai, apesar da influência dele na minha vida ser inquestionável. apesar de ter ultrapassado bem, tinha medo de chorar, de me emocionar demasiado e tremer a voz - estamos a ser avaliados - e também não me apetecia muito abrir-me assim tanto com a turma. "oh, ela tem um pai morto" não me importo com isso mas, ao mesmo tempo, é um pouco da minha intimidade trazida ao de cima. falei do meu irmão, nunca menos importante,
a maria precisava de dar-se a conhecer para aceitar-se. ser gay é algo que ela não controla, o que não significa que tenha que ter vergonha. ela dizia "temos o gay pride quando, no fundo, não temos assim tanto orgulho". a pessoa que mais a influenciou foi a namorada, acabou por falar dela apenas no reflexo que a sua presença teve na vida dela.
é preciso muita coragem para isto. o pedro é hetero, pode bradá-lo aos ventos, ninguém vai ligar nenhuma porque é irrelevante. a maria é homo, e as pessoas podem pensar "ela que guarde isso para si" porque sentem-se chocadas. pelo que pareceu, a turma aceitou bem.
sabes a maria? ela é gay! a sério? começa um burburinho no intervalo, as pessoas com o gossip saciado, como se fosse algo bastante determinante. a orientação sexual é um tema ainda bastante delicado, mas é bom ver que se fazem progressos aqui e ali. quanto a mim, acho que devíamos tratar o assunto até com algum desapego para que se torne algo leve e simples, para que a palavra "gay" não acarrete tanta carga pesada.
como já diza o outro: quando é assim, é deixá-los estar.
quando é que podes dizer-lhe que já a conheces toda? será possível? mais; e se ela não se conhece e nem sabe?
mas e se tu achas que sabes? podes dizer-lhe ou ofendes? podes gabar-te e pavonear-te por aí? podes.
entretanto arrependes-te, porque as pessoas acabam sempre por nos surpreender.
tens duas hipóteses; ou surgem com uma imprevisível mas agradável situação, ou fazem-te repensar a tua vida toda e, sem querer, dizer: se eu soubesse o que sei hoje...
ok, o tempo passa muito rápido, é uma verdade irrefutável e eu já me debrucei demasiado sobre este assunto.
tive vertigens quando me dei conta que estamos a meio de novembro.
tenho toneladas de papel para ler, que ecológicos que estamos, e isso nem me faz tanta confusão. mas é muita informação. informação é bom. muita informação deveria ser fantástico, não fosse eu ter de a passar para papel.
já só tenho pouco mais de ano e meio para mostrar do que sou capaz neste curso. não é de acabar o curso com uma média fraca que eu tenho medo, mas sim de me ver na situação de ranger os dentes e pensar "f*-se, eu poderia ter feito muito mais...".
tantas coisas a acontecer ao mesmo tempo. há momentos em que vacilo e penso que não sou mulher o suficiente. levo logo uma chapada que a minha mão me dá, por amor de deus, tu já passaste por pior. não é o ser bom ou mau, são as responsabilidades e o fim do tempo em que brincávamos aos crescidos.
esta noite sonhei que os meus pais me iam buscar a casa de uma amiga, íamos com uma colega minha do secundário no carro, eles iam falando comigo e com ela e, de eu só me atrapalhava a falar (como quando queremos dizer uma coisa e pensamos noutra)e, de repente, eu disse-lhe ao ouvido "não estás a perceber, é que eu não sei como é que o meu pai está aqui". era impossível mas estava a acontecer, eu não percebia aquilo mas estava felicíssima.
foi só um sonho. é o que basta.
2050 parece-me muito longe e é possível que eu já cá não esteja. é possível mas, espero, pouco provável, porque está apenas a 39 anos de distância e, por essa altura, terei 58 anos. seja daqui a 10 ou daqui a 100 anos, hei-de desaparecer da face da terra. no fundo, vamos todos! foi sempre assim e não há-de mudar tão cedo. se calhar não vou chegar a ver carros a voar, não vou conhecer os meus netos ou bisnetos, não vou fazer uma viagem até à lua.
não quero entrar num discurso depressivo, porque isto não me incomoda assim tanto. o que é estranho é o facto do mundo continuar a girar quando eu já aqui não estiver. coisas vão continuar a acontecer, pessoas vão continuar a amar-se, a matar-se, a revolucionar sociedades... a verdade é que isso não é muito diferente do que acontecia antes de eu nascer. eu não existia antes de 1991, e importei-me por acaso? há-de ser a mesma coisa: a inexistência. o zero.
hoje acordei a ouvir a chuva e soube-me bem estar quentinha na minha cama.
hoje saí de casa e estava a chover. não foi agradável.
a chuva é como a vida, tem estas duas faces. limpa e rega, molha e inunda.
há também aquela chuva que molha tolos, a chuva miudinha. porque é que molha tolos? deve haver uma razão para se chamar assim, mas as pessoas já não perdem tempo com explicações. oiço essa expressão desde pequenina e nunca ninguém se dignou a dizer-me porquê.
entrei no carro com esta questão.
será que molha tolos porque é tão miúda que eles não se importam e, ao fim de algum tempo, acabam por ficar molhados e fazer figura de parvos? ou será que é porque é tão irrelevante que só os tolos é que se queixam?
há aqueles momentos em que estou ocupada e lembro-me de algo excepcional para publicar no meu blogue e depois, quando aqui chego, a ideia esvai-se. uma vez que já tinha aberto a página, publico apenas esta música que me enche o coração.
o conceito de aldeia global, para além de ser do conhecimento geral, é interessante. é um paradoxo em si, já que "globalização" não é uma palavra que tenha a ver com aldeia. é aí que está o seu propósito: numa aldeia todos se conhecem, as notícias correm depressa e facilmente se chega a qualquer lado. não sei bem porquê, mas eu associava aldeia a algo bom. "globalização", por sua vez, é um fenómeno que, apesar dos seus inúmeros aspectos positivos, incomoda-me.
na aldeia global, apesar da comunicação (maioritariamente virtual) ser demasiado facilitada, a comunicação dita real diminui. os vizinhos mal se conhecem, a tradição bairrista vai perdendo força, os amigos contam-se através do facebook e estamos todos em contacto de uma forma mórbida. eu não critico as redes sociais, mas sim a atitude geral que as acompanha. porque raio é que alguém que não me conhece de lado nenhum (mas que tem cinquenta amigos em comum comigo) me há-de enviar um pedido de amizade?
junta-se o que há de mau em "aldeia" e o que há de bom em "global", e não é justo.
por isso é que eu dou valor aos meus vizinhos - também considero-me com sorte neste aspecto. moro no último andar de um prédio e, no andar de baixo, há duas casas: a do joel e a do miguel. o joel tem cerca de 30 anos e vive sozinho há pouco mais de três anos; o miguel mudou-se há coisa de dois anos com os pais. são ambos bons vizinhos, daqueles que não forçam conversa no elevador, mas simplesmente falam sem rodeios sobre a vida. o joel é cabeleireiro e disse que eu fiz bem em cortar tanto o meu cabelo, convidou-me a ir ao salão dele um dia destes. o miguel toca piano no fim-de-semana e as notas ecoam pelas paredes da minha casa - é uma óptima maneira de acordar! o joel ouve música que eu gosto, pergunta-me pelo meu cão e pela minha mãe, tem confianças para me tocar às 2 da manhã porque se esqueceu das chaves. uma vez, no verão, fiquei a conversar com o miguel nas escadas até às 6 e tal da manhã. no outro dia mostrei-lhe uma queimadura no meu dedo e ele dispôs-se a emprestar-me uma pomada.
os mais velhos dizem que os garotos de hoje em dia não sabem o que é comunicar, só conhecem o computador e isolam-se do mundo. os mais velhos acham-se donos da razão. os jovens ainda gostam do mundo real e agarram-se a ele com unhas e dentes.
sei que ando a passear-me por estas bandas por mais tempo que o que já era habitual. não devia ser assim, o habitual deveria ser marcar presença frequentemente, salvo excepções em que não me fosse possível ou não me apetecesse.
enfim, não vou perder aqui muito tempo à volta dessa questão. acho é que o facto de ter chegado o outono inspira-me para pensar mais e escrever mais. seja como for.
é meu costume alienar-me de diversas coisas importantes, o que importa é que elas estão lá. não é uma atitude bonita nem feia da minha parte, simplesmente não é propositada.
tenho pensado muito no tempo, que passa sem pedir autorização e que chega a ser maldoso. creio que as pessoas perdem-se e esquecem-se de notar que não é o simples passar do tempo que deve ser comemorado, mas sim o facto de algumas coisas do nosso agrado se manterem firmes ano após ano, e de outras estarem em constante mutação. a mudança deve ser sempre perspectivada para melhor.
assim sendo, lembrei-me que o meu blogue completou três anos no sábado. pobrezinho, tem andado abandonado. voltei. estou feliz. três anos já é tempo e, sem dar por isso, este blogue cresceu e, com ele, cresci eu também. um bocadinho em altura, outro tanto de cabeça. já tanta coisa por aqui passou, que não podia deixar de lhes fazer referência. e de agradecer, a quem quer que seja.
"Era Ano-Novo. E mudança de década: 1980. Não haveria champanhe, serpentinas ou abraços. Eu estava só.
- Feliz Ano-Novo, Marcelo.
- Pra você também, Marcelo.
Admirava a alegria das pessoas na rua, uma alegria da qual não fazia parte. Estava triste e só.
Adeus Ano Velho, feliz Ano Novo
Não tinha o mínimo sentido. As lágrimas rolaram, chorei sozinho, ninguém poderia imaginar o que eu estava passando. Nada fazia sentido. Todos sofriam comigo, me davam força, me ajudavam, mas era eu que estava ali deitado, e era eu que estava desejando a minha própria morte. Mas nem disto eu era capaz, não havia meio de largar aquela situação. Tinha que sofrer, tinha que estar só, tão só, que até meu corpo me abandonara. Comigo só estavam um par de olhos, nariz, ouvido e boca.
eu pergunto porquê? e vêm-me logo com teorias comprovadas que está tudo no cérebro, nos neurónios e nas sinapses. eu mando a química para o raio que a parta porque se eu sinto, canto, e o resto não podia interessar-me menos. então eu pergunto, e recebo uma resposta que só serve para me convencer mais de que eu, para mim, tenho razão. eu sinto o que acredito, e acredito no que penso. às vezes parece-me tudo uma mixórdia estranha atirada a pontapé para a minha cabeça mas, no fundo, não é mais do que o meu eu em plena actividade.
a experiência faz crescer, seja a bem ou a mal. a experiência também priva-nos do espanto. o espanto dinamiza os nossos dias. era uma vez um cuco.
gosto de me ver capaz de sentir que acabei de abrir os olhos e gosto, sobretudo, de olhar as coisas de forma simples; de não acrescentar-lhes automaticamente uma denotação demasiado rebuscada.
eu preciso de me exprimir, seja como for. tenho de ter muitas palavras a sair-me da boca ou da caneta, é como calhar... gosto demasiado de gostar de ti.
ter a última aula de terça-feira até às 20h até poderia ser uma experiência traumática, não fosse comunicação televisiva e respectivo formidável professor. fico bem disposta. saio daqui mais leve e tudo. às vezes considero-me uma pessoa com sorte.
a sorte protege os audazes.
não tenho por que temer - a não ser este calor que já chateia.
hoje vi o documentário inside deep throat, realizado por Fenton Bailey e Randy Barbato, mais de trinta anos depois do êxito de bilheteiras pornográfico. já tinha ouvido falar deste filme dos anos 70, sabia que é um clássico da indústria de filmes para adultos mas, após ver o documentário, muitas questões levantaram-se na minha cabeça e achei por bem dissertar sobre elas no meu espaço virtual. pode ser que quem me leia se questione também e ao menos que para isso sirva.
o deep throat teve e tem imenso sucesso pelas melhores e piores razões. na altura em que foi exibido, foi alvo de inúmeras críticas pelo governo americano e por alguma parte do público. um dos argumentos era que o filme convencia a mulher de que chegar ao orgasmo através do clitóris era uma coisa boa quando, na verdade, não era. logo, a mulher estava a ser enganada através de uma espécie de paródia pornográfica. o actor principal chegou a ser condenado a cinco anos de prisão!
nunca tive uma ideia específica sobre o que achar da pornografia. descobri-a acidentalmente com seis anos e seria um eufemismo caracterizar essa experiência como traumática. apesar de ter nascido no final do século XX, cheguei à adolescência convicta de que era feio falar-se sobre sexo, por isso é que tinha de ser em segredo, era sujo fazê-lo ou pensar-se nele. então, quando começámos a ter conferências sobre educação sexual na escola, eu sentia-me mal por ter de ouvir aquelas coisas; sentia que era até vergonhoso estar ali. eu não era uma puritana, ficava apenas incomodada com o facto de terem de me esfregar na cara que o processo de reprodução animal é algo que toda a gente faz. quanto mais vê-lo!
hoje, na recta final dos meus dezanove anos, vejo a coisa de forma completamente diferente e ainda bem.
não é tão bonito que apenas uma figura humana nos provoque tantas sensações diferentes no corpo? porque é que isso há-de ser sujo, se é bom? porque é que dizem que é feio, quando não é? acho que se as pessoas perdessem menos tempo à volta da problemática da promiscuidade este mundo seria um lugar melhor. esse conceito só existe por culpa de quem o inventou.
não condeno os filmes pornográficos - eles também são ficção. só vê quem quer ver e não acho que isso seja sinónimo de perversão.
relativamente ao deep throat, não o vi - ainda. quiçá ainda me faça mudar de ideias...
não gosto destas músicas de heartbreak que oiço na rádio. fazem-me, por breves momentos, acreditar que também eu sofro um desgosto amoroso e isso deixa-me angustiada.
estou tão inspirada que quase nem consigo escrever, como se a inspiração fosse um bolo, espero fatias de vez em quando, e agora tenho-o todo.
páro um pouco para pensar e repensar, tenho medo que às vezes me faça mal mas também é bom educar-me a cessar a minha mente quando simplesmente não vale a pena.
há coisas que não valem a pena, o tempo, a calma.
cada pessoa vive por si e temos de saber absorver o melhor dos outros, das vivências, das situações - porque tudo parte da nossa mente. ela às vezes é perigosa.
o processo é gradual, pode ser demorado, exige alguma paciência mas compensa. depende da vontade. eu não posso resolver nada pelos outros e também não estou à espera que a graça divina me salve de um fosso.
como diz um velho amigo, "a nossa vida é feita de pequenos nadas" e ainda bem que assim é. não estou satisfeita comigo, com quem me rodeia, com o que faço e onde estou; estou feliz.
há muita gente injusta pelas melhores razões. infelizmente, não posso pôr ninguém dentro da minha cabeça. se assim fosse, muito mal-entendido seria evitado.
estou em vias de recomeçar a minha vida académica e, curiosamente, estou contente. tenho saudades de ir para as aulas, de me enervar com os trabalhos, com o estudo e com a falta de tempo para o que quer que seja porque gosto disso.
também gosto de preguiçar no sofá uma tarde inteira, mas sabe bem melhor quando o faço no meio do semestre. se eu pudesse, repartia as minhas longas férias de verão pelo ano. não quero ser mal agradecida nem nada, mas sinto-me saturada por não ter muita coisa que exija mais de mim.
já me estou a imaginar daqui a três meses a ler isto e a lançar maldições contra mim mesma, mas é assim a vida e sou assim eu, às vezes no oito, outras no oitenta.
sinto que neste novo ano lectivo muita coisa vai mudar para melhor.
these are the days of our lives! daqui a vinte anos vou cantar com convicção:
este título vai com maiúsculas como manifesto da minha satisfação relativamente a este festival de cinema. nunca tinha ido a nenhum e filmes de terror não são propriamente a minha praia... ou não eram, porque gostei bastante. fui a duas sessões completamente diferentes. na primeira, vi três curtas. na segunda, um filme inteiro. eu imagino os realizadores sentados no seu sofá, bebendo chá e pensando "tenho de realizar a ideia mais macabra, diabólica e sinistra neste filme".
e é por isso que é genial, e é por isso que me ri algumas vezes - logo eu, que sou um bocado medricas. valeu muito a pena e deixo aqui o conselho para que toda a gente experimente ir. não serve para dar pesadelos, serve para nos sentirmos menos doidos. ou, pelo menos, ajudou-me nisso uma vez que tenho um humor um bocadinho sádico.
esta letra faz todo o sentido, pelo menos, uma vez na vida.
a ténue linha é dificilmente atravessada. depois, há duas hipóteses: ou corre bem ou desmorona-se tudo.
preferia que estivesse tudo claro e que não houvesse necessidade de nos aproximarmos de um desfiladeiro.
nesta vida que deus me deu já me preparei para muita coisa. e para isto? algo que me parecia sólido e consistente rachou de repente como um pedacinho de cristal e caíram estilhaços pelo chão. estou completamente desnorteada e não estou habituada a sentir-me assim.
para a próxima escrevo a marcador preto na testa: não quero qualquer tipo de relação para além de amizade.
há três anos e oito meses que não pisava este chão. muita coisa aconteceu desde essa altura, passei por muitos momentos altos e baixos como é normal que aconteça na vida e, pela primeira vez em muito tempo, sinto-me genuinamente feliz.
é aquela felicidade que se sente quando se alcança algo grandioso, é aquela sensação de alívio, de recomeço e de limpeza interior. não vim com esse propósito, mas parecia-me inevitável que acontecesse. ainda só passou um dia, ainda estou em salvador - amanhã sigo para aracaju, que é onde me espera a minha família toda. não só vai ser comovente o reencontro com eles, como também o reencontro comigo mesma.
vim sempre com o meu pai, desde pequena. era uma coisa nossa. passava aqui as minhas férias de verão, com a minha família, família dele, com ele. ele era o meu melhor amigo e eu achava que ia durar para sempre. dos seis aos dezasseis, brasil era o meu pai, meu pai era brasil. todas as histórias bonitas têm um fim e é aí que está todo o encanto.
mas as histórias também podem ser reinventadas e é disso que se trata este regresso. eu precisei de mais de três anos para me sentir capaz de reinventar.
agora senti-me feliz, vejo que tudo faz sentido e que continuo eu mesma, embora naturalmente mais madura. comprometi-me a saborear cada momento que passar aqui para mais tarde não achar que podia ter feito mais.
era só isto que me faltava para me resolver e para me esclarecer. olhando para trás, não poderia ter sido de outra forma.
já tenho vindo a mencionar este projecto que tenho com o meu irmão e, agora que é verão, temos finalmente tido a oportunidade de nos dedicarmos mais do que o costume. assim sendo, como é óbvio, a minha vida tem girado à volta das nossas músicas e dos nossos planos. sabe muito bem. não percebo o que é que se passa entre mim e o meu irmão - independentemente da música ser bonita ou feia, nós sentimos aquilo. é a nossa forma de nos amarmos.
sinto-me tão orgulhosa por partilharmos este fervilhar de emoções pela música e, principalmente, por caminharmos nisto juntos. porque, antes de eu sequer ir a festas, já o meu irmão andava a partir mesas de mistura por aí. eu só queria criar. criar muito.
criamos juntos, somos do mesmo sangue, é a melhor sensação de sempre.
"o que, no fundo, lhe causava mais comoção não eram os acordes e a melodia no seu todo, mas sim aqueles pequenos intervalos em que os seus dedos deslizavam pelas cordas da viola e gemiam por mais."
um livro qualquer, escrito por quem?
20.7.11
se eu por acaso fosse tradutora e legendasse programas americanos, colocaria um :D entre parênteses de cada vez que referissem algo em relação a portugal.
ontem apercebi-me do quão vertiginoso é o conceito de morte.
morte, morte. não é propriamente uma desconhecida para mim.
morte nos outros é assustadora, sim.
e em mim?
o vazio.
so, in this life, we've got to make the best of it.
como? dou primasia às sensações. é verão, gosto. gosto dos meus pés na areia, gosto do cheiro da terra molhada, dos pássaros a cantar às cinco e meia da manhã, de ainda ser de dia quando janto, de andar de t-shirt à noite.
conhecer, mais e mais. nunca chega. sabe bem a sintestesia familiar, mas gosto de criar outras.
... de uma forma tão intensa que já ouvi queixas por nunca mais cá meter os pés como deve ser. há falta de melhor, portanto passo a justificar o que tenho andado a fazer da minha vida e aproveito para fazer uma retrospectiva sobre o meu primeiro ano académico, que está (finalmente!) a terminar. na verdade, tenho pena de não me sentir mais feliz por estar a chegar ao fim, e desengane-se quem pense que é por achar que vou ter saudades. as aulas vão acabar, e os exames estão aí à porta, prestes a entrar por aqui a dentro sem pedir autorização.
a faculdade é um mundo um bocado esquisito.
por um lado, temos as normais exigências escolares sempre à perna - e o meu curso é audaz por pedir um (às vezes dois) trabalhos de apresentação oral por cadeira. esses trabalhos, muitas vezes, são de semestre - o que significa que tenho cerca de quatro meses e tal para planear um projecto (seja ele qual for) e executá-lo segundo o que dita a cadeira. eu tenho sete cadeiras diferentes, e aulas à tarde todos os dias. a parte fixe é que à sexta posso ficar a dormir. para além disso, tenho livros para ler e analisar, testes, exames, portefólios, relatórios, recensões, contabilização de faltas e salas sem ar-condicionado.
por outro lado, surgem por todo o lado imperdíveis propostas de festejo. quem é que é capaz de recusar uma noite de loucura quando, à partida, já sabe que o resto da semana vai implicar trabalho massivo? bom, eu não. depois ando aqui neste 8 e neste 80, como o meu amigo orlando. a diferença é que não vou viver 400 anos, por isso tenho de aproveitar tudo como me for possível. se a faculdade um dia me deixar marcas, a primeira será de certeza no fígado.
a par disto, tenho tentado empenhar-me no projecto que tenho vindo a desenvolver com o meu irmão, de seu nome beatshake. é bastante recente e ainda só disponibilizámos duas músicas, apesar de ainda termos mais duas para sair que só precisam de uns retoques. andamos cheios de vontade de gravar mais e mais, mas parece-me que só a partir da próxima semana é que poderemos dedicar-nos com mais rigor. tomei a liberdade de publicar neste blogue uma, há coisa de mês e meio, e agora outra, aqui nesta barra lateral à direita. vamos dando um passo de cada vez.
até agora, já me fiz ouvir na vodafone fm, com duas músicas integradas no set do meu irmão e no loft, sábado, quando ele decidiu pôr uma música nossa para ver a reacção do público. tenho a dizer que foi bastante positiva. é claro que sou suspeita, já que naquele momento sentia-me possuída por mil demónios.
é basicamente isto.
ando tão inteligente que nem sequer consigo concluir o raio do texto.
cá vai:
fim.
21.5.11
"Let's never come here again because it would never be as much fun."
num destes fins de tarde cheio de sol, pus-me a contemplar os canteiros do parapeito da minha janela. a planta crescia, vigorosa, e eu não podia deixar de notar nas plantinhas que a rodeavam. pareciam súbditos, a venerar a planta principal cujo nome eu nem sequer sei, mas ela era o palco e as folhas caídas e enraizadas na terra eram a plateia que se instalou sem a autorização de ninguém.
- já viste, que lindas estas plantas? estão cheias de flores microscópicas!
- lindas?! são ervas daninhas, tenho de as tirar daí porque estragam a terra toda.
e porque não deixá-las estar, se é o que a natureza quer?, e se são bonitas?
caminhava eu alegremente pela baixa pombalina quando, a dez metros de mim, um homem leva um tiro. não percebi bem o que aconteceu, o estrondo fez eco e estalou num silêncio mórbido, levei os olhos ao céu e vi os pássaros assustados, perguntei a alguém lá cima "mas que raio?!". eram os pássaros a fugir e os transeuntes a aproximar-se, e eu sem perceber qual das atitudes a mais animalesca. nestas questões a curiosidade fala mais alto, câmaras e telemóveis em riste faziam as delícias da pequenada. depois disso pouco vi, chegou logo a polícia e o inem, um homem foi detido, eu só queria era que me dissessem que raio de mundo é este e que raio de gente nele habita.
para quem quiser ouvir, esta é uma das músicas de um projecto que estou a desenvolver com o meu irmão. o toque "zuca" não podia faltar, e assim tentamos encurtar a distância que divide o brasil de portugal.
eu não sei se hei-de ser boa mãe, confio que algures no destino encontrarei a resposta, nessa altura logo se vê, não me imagino com crianças neste momento, a vida tem de ser bem aproveitada enquanto não tenho esse tipo de responsabilidades.
eu sei que vou ser bom pai, vou ser um óptimo pai, vou ser amigo dos meus filhos, vais ver, vou ser mesmo fixe.
tenho de me conhecer primeiro enquanto mulher, o peso de uma criança na minha barriga e na minha vida vai ser das melhores coisas que me acontecerá, mas não quero que seja a única.
não sei muito bem o que é que a vida reserva para mim, mas quero muito ter filhos, mesmo que seja mais tarde, porque tenho de encontrar a pessoa certa. mas quero trazer uma vida ao mundo, perpetuar a minha presença.
"A vida, desde então, não me esclareceu muito; mas creio firmemente que, se há anjos da guarda, o meu tem asas verdes, e sabe, para consolar-me nas horas mais amargas, os mais rudes palavrões de sete mares."
hip-hop,
nunca acabámos, eu só precisava de um tempo. realmente, só me dei conta disso agora que senti a tua falta; agora que senti a curiosidade de te ir procurar, de te sentir. estás sempre no lugar mais bonito que guardei para ti: o meu coração, as minhas memórias.
o hip-hop é uma coisa muito estranha, quase não se canta, o que é isso? rap? há que saber admirar a genialidade de sam the kid, por exemplo, e faço minhas algumas das palavras dele, na música que aqui deixo.
eu deixava-me inundar incessantemente por ti, eras tudo o que me rodeava, eras as pessoas de quem eu gostava, serviste-me de terapia e de consolo. não sei porque é que a quebra foi tão repentina. nunca me fizeste mal nenhum!
a memória às vezes sabe ser matreira, tem-me acontecido lembrar-me instantaneamente de situações passadas sobre as quais nunca mais pensei. como aquela vez que eu e a mariana tínhamos quinze anos e decidimos ir a uma festa qualquer de uma faculdade, acabámos por não entrar, andámos a vadiar sei lá eu por onde, lembras-te estarmos na alameda a ver quem é que sabia de cor as letras todas?, nós sentíamos tanto aquilo - mais do que isso, acho que aquilo sentia-nos - e momentos desses bastavam-nos como um "amo-te", podia ser que ninguém nos compreendesse mas nem pensávamos nisso, onde tu ias ia eu atrás, onde eu ia estavas lá tu.
e é por estas razões que acho que tenho um pequeno toque para a música. gosto de música. mas isso não chega em relação a certas combinações de notas e instrumentos, eu sei lá... estremeço toda por dentro, és mesmo o meu objecto de amor, "quero uma história contigo", já temos uma linda história e tu chegas a fazer-me chorar. fomos feitas uma para a outra, eu para ti, música, e tu só existias porque sabias que eu ia nascer.
vou cantarolando uma ode à música, ao hip-hop, a tudo o que me toca cá dentro...
já me tinham falado de uma característica especial dos condutores de lisboa, e eu sempre me ri um bocado disso, porque não me parecia que fosse verdade. recém-encartada que sou, tenho-me divertido (e entrado em pânico também) nas minhas últimas aventuras por esta cidade, e vim a constatar um facto, que é certo como as leis de murphy:
quanto mais tempo ficas à espera num semáforo vermelho, maior é a probabilidade dos condutores que te rodeiam estarem a tirar macacos do nariz.
será a condução o momento propício para tão sensual momento de higiene? ou terá a ver com aquela aula de código que faltei?...
uma coisa que aprendi em pequena é que, nesta bela sociedade, os grupos de trabalhadores implicam características que dificilmente se irão extinguir com o tempo: as cabeleireiras adoram fofoquices, os senhores das obras têm sempre um dom para os piropos, os empregados da brasileira são antipáticos, os jogadores de rugby são fixes, os futebolistas não são pessoas instruídas, os taxistas têm sempre uma opinião formada sobre tudo, os cantores famosos são drogados, e assim por diante.
não quero ferir susceptibilidades: acredito que, num dia menos mau, os empregados da brasileira empreguem um tom mais simpático.
estes estereótipos não foram inventados por mim; limito-me a escrever o que observo. pois eu sempre observei que os canalizadores costumam exibir uma específica parte do seu corpo enquanto cumprem o seu árduo trabalho. já o vi em desenhos animados, filmes e caricaturas.
há inúmeras razões para tal: engordaram uns quilitos desde que compraram aquela roupa, ou é a mulher que a compra e engana-se no número. a hipótese mais provável é que a posição em que têm de se colocar para fazerem o que lhes compete não lhes favorece a silhueta.
compreendi, então, quando o comprovei na realidade: se gostam ou não, eu não posso confirmar, mas têm sempre as calças ligeiramente mais abaixo, e a camisola um nadinha mais acima do que era suposto. ou será que...?
julgava eu que isso nunca iria mudar, era tão certo como as chuvas em abril. no entanto, o aquecimento global tem-nos pregado partidas, e isso pode transformar o mundo a níveis inimagináveis. tenho ouvido dizer que os tempos já não são o que eram, e qual não foi o meu espanto quando me deparei com um canalizador de roupa interior à medida (ou um pouco maior, para facilitar), movendo-se confortavelmente enquanto mexia nas tomadas.
será este um pequeno passo para a resolução de todas as incongruências do mundo? gosto de acreditar que sim. de facto, este tema pouco tem de interessante, mas não deixou de me fazer espécie. tanto é, que eu andava com ele às voltas na minha cabeça para o publicar no blogue. poderei estar a ficar louca ou, na verdade, desejarei que as pessoas parem de atribuir estereótipos aos restantes seres humanos.
insónia insónia insónia insónia
insónia insónia insónia insónia I N S Ó N I A god damn it
25.1.11
eu não sei se as saudades matam, mas às vezes o meu coração fica todo torcido e ameaça parar de bater. e porque é que o teu não bateu mais um bocadinho? porque é que não ficaste comigo um pouco mais? queria voltar a saber chamar-te, nunca mais pude chamar-te. não sei onde é que estás e isso assusta-me.
procurei te encontrar pelas ruas que andei, procurei, procurei, procurei.
acordei e senti calor - não demasiado. simplesmente o calor que sabe bem sentir num dia gélido de inverno. aquele calor humano que nos envolve o coração, a presença de quem se quer para sempre e desde sempre. a união, de facto.
notei que os meus sentidos se apuravam. pude desfrutar do silêncio absoluto, a casa dormia mas eu nem a ouvia respirar. pela primeira vez, nenhuma música se lembrou de ecoar na minha cabeça e eu, finalmente, conheci a inexistência do som.
nem sei bem como explicar concretamente, sentia-me um embrião no ventre materno.
abri os olhos e nem precisei de os mover - era como se eles estivessem já posicionados correctamente, enquanto eu dormia. abri-os e vi branco, vi o céu, consumido por uma luminosa e gigante nuvem branca. ramos nus de árvores balançavam-se lentamente, como se dançassem. formavam figuras japonesas, como um cortinado vivo. o silêncio do lá fora era diferente do de cá de dentro.
fiquei ali, perdi a noção do tempo e abandonei a minha mente aos seus devaneios. acho que, por momentos, até abandonei o meu corpo. senti-me, de certa forma, a morrer. é isto que se sente, tive a certeza. fiquei em paz com todo o mundo, e com todas as coisas boas e más que ele tem. se eu fosse agora, ia a transbordar de felicidade.
por muito estranho que pareça, aquele primeiro amanhecer deste ano e desta segunda década trouxe-me mais respostas do que os meus anteriores dezanove anos de vida.