3.12.12

hipocrisia

sinto que estou a ficar feia e má, que estou a crescer e a tornar-me na bruxa da branca de neve, não gosto do que oiço dizer, não gosto das más-línguas nem me interessa saber quem andou a foder quem, e como, são palavras feias e más, mas eu não posso fazer nada senão aceitar que me contem mil e uma coisas que, eu juro, não me interessam nem me vão interessar nunca nesta vida nem na outra. sinto até que é errado pôr um ponto final no texto, tenho frio e estou triste porque olho à minha volta e dá-me cada vez mais vontade de sair daqui para fora, porque ninguém diz nada que preste, e o problema é que acham que presta, ninguém é capaz de ser gente a sério e eu, no meio disto tudo - porque não quero estar com falsas modéstias - penso que estou errada, que sou severa e má e, por isso, faço um esforço por deixar transparecer a minha faceta que acata histórias mirabolantes do diz que disse, tento participar e digo que disse... no entretanto, sinto constantemente uma luta na minha cabeça entre o que eu sou e o que os outros estão à espera que eu seja. e sinto-me mal por ter gastado o meu latim em tão ignóbil discurso. nunca pensei que fosse tão difícil. tudo isto faz-me sentir má. não é correcto ter à minha frente a miúda super fixe e irreverente e apetecer-me dizer-lhe que ela é ridícula, que devia perder mais tempo a pensar em coisas que realmente importam e que as palavras que ela diz me serviam perfeitamente para limpar o rabo.
e não digo. e mantenho-me camuflada, porque uma pessoa deve ter sempre tento na língua. e pergunto-me se foi tento na língua que tive, ou se fui simplesmente hipócrita. e como é que eu posso criticar a hipócrita que maldiz tanto tanta gente? maldizente que, depois, em momentos mais privados, brada que cada vida é de cada um, e pergunta qual será a razão de tanta mesquinhez, que malvados que são todos. mentira. é o pior de tudo. essas pessoas camufladas. são feias... e eu pergunto-me como é que as outras pessoas não notam; bom, talvez notem como eu, que ajo como se nada fosse. mas o mais plausível é que simplesmente não notem, porque são farinha do mesmo saco. e pergunto-me, como é que elas próprias não notam - que, na verdade, notam, pois se não notassem eram comprovadamente loucas, ou então o problema é mesmo da sociedade que devia prestar mais atenção a gente deste tipo e colocá-la no hospício. eu tenho para mim que são simplesmente malvadas, corrompidas e desrespeitosas para consigo mesmas. e acho que não há nada pior.
e nada fica mais bonito, as pessoas continuam a ser desesperantes, eu continuo desesperada e juro que um dia, quando finalmente deixar de ser hipócrita, desapareço daqui por uma boa temporada.