3.12.12

hipocrisia

sinto que estou a ficar feia e má, que estou a crescer e a tornar-me na bruxa da branca de neve, não gosto do que oiço dizer, não gosto das más-línguas nem me interessa saber quem andou a foder quem, e como, são palavras feias e más, mas eu não posso fazer nada senão aceitar que me contem mil e uma coisas que, eu juro, não me interessam nem me vão interessar nunca nesta vida nem na outra. sinto até que é errado pôr um ponto final no texto, tenho frio e estou triste porque olho à minha volta e dá-me cada vez mais vontade de sair daqui para fora, porque ninguém diz nada que preste, e o problema é que acham que presta, ninguém é capaz de ser gente a sério e eu, no meio disto tudo - porque não quero estar com falsas modéstias - penso que estou errada, que sou severa e má e, por isso, faço um esforço por deixar transparecer a minha faceta que acata histórias mirabolantes do diz que disse, tento participar e digo que disse... no entretanto, sinto constantemente uma luta na minha cabeça entre o que eu sou e o que os outros estão à espera que eu seja. e sinto-me mal por ter gastado o meu latim em tão ignóbil discurso. nunca pensei que fosse tão difícil. tudo isto faz-me sentir má. não é correcto ter à minha frente a miúda super fixe e irreverente e apetecer-me dizer-lhe que ela é ridícula, que devia perder mais tempo a pensar em coisas que realmente importam e que as palavras que ela diz me serviam perfeitamente para limpar o rabo.
e não digo. e mantenho-me camuflada, porque uma pessoa deve ter sempre tento na língua. e pergunto-me se foi tento na língua que tive, ou se fui simplesmente hipócrita. e como é que eu posso criticar a hipócrita que maldiz tanto tanta gente? maldizente que, depois, em momentos mais privados, brada que cada vida é de cada um, e pergunta qual será a razão de tanta mesquinhez, que malvados que são todos. mentira. é o pior de tudo. essas pessoas camufladas. são feias... e eu pergunto-me como é que as outras pessoas não notam; bom, talvez notem como eu, que ajo como se nada fosse. mas o mais plausível é que simplesmente não notem, porque são farinha do mesmo saco. e pergunto-me, como é que elas próprias não notam - que, na verdade, notam, pois se não notassem eram comprovadamente loucas, ou então o problema é mesmo da sociedade que devia prestar mais atenção a gente deste tipo e colocá-la no hospício. eu tenho para mim que são simplesmente malvadas, corrompidas e desrespeitosas para consigo mesmas. e acho que não há nada pior.
e nada fica mais bonito, as pessoas continuam a ser desesperantes, eu continuo desesperada e juro que um dia, quando finalmente deixar de ser hipócrita, desapareço daqui por uma boa temporada.

6.11.12

a música às vezes faz mal

completamente atacada por umas alergias assassinas. o meu corpo virou-se contra mim. já devia era ter marcado alergologista, uma pessoa vai deixando andar porque não parece que é preciso e ZÁS, lá vem a porcaria da alergia outra vez, cada vez com mais força e destreza, pronta para me arrumar a um canto. escusado será dizer que estou a demorar séculos só para escrever uma frase, mas eu tenho de lutar contra ela, não vou render-me assim tão facilmente.
eu diria que não é doloroso, é incómodo; mas, pensando bem, de tão incómodo que é, dói. porque eu aguento bem um nariz em ferida, já sofri mais, arde apenas. mas, tendo de me assoar a cada dois minutos, esta porcaria acaba por custar. e, no meu crânio, sinto que estou incessantemente a inspirar água com força - aqueles piquinhos que vêm desde o cocuruto até ao nariz e que fazem os olhos chorar e fechar.
só me lembro, como consolo, daquela vez em que tive uma infecção urinária. andava há uns dias a ouvir um cd de interpretações de músicas de bossanova no meu carro - isto pode não parecer muito adequado de referir, mas até é - até que, nessa altura, acordei de madrugada com uma súbita vontade de fazer xixi. mas não era uma vontade normal, era uma vontade que ameaçava matar-me se eu não fosse a correr à casa-de-banho. percebi logo que se passava alguma coisa e custou me muito adormecer, porque  durante as piscinas entre o quarto e a casa-de-banho, cada vez me sentia pior. isso sim, é que foi dor. o pior é que não me saíam da cabeça aquelas belas músicas de bossanova; ecoavam repetida e arrastadamente na minha cabeça, como se tocassem num gira-discos estragado. eu, sentada na sanita e cheia de sono, cantava-as para ver se saíam da minha cabeça de uma vez por todas, e nada. levava as mãos à cara, quase que adormecendo, tentando pensar noutra coisa. mas lá voltavam a assombrar-me aquelas músicas, sem dó pela minha condição.
foi um verdadeiro pesadelo.
por isso, sempre que estou doente ou me dói alguma coisa, lembro-me daquela mítica noite. e nunca mais fui capaz de ouvir aquele cd, nem nunca mais voltei a mexer nele. e nunca mais fui tão infeliz.

14.8.12

11 corações

se eu te dissesse que tenho uma bola feita de aço presa na minha goela.
se eu te dissesse que sobrevivo.
que esta dor vai ser tão dura quanto boa.
faz doer lentamente, arranha com carinho, tem toda a paciência do mundo para ficar por aqui a descansar.
e sabe que depois de tanto tempo vai ser doce e morno, cheirar por cima do teu lábio, as pernas entrelaçadas e risos a tarde inteira.

achavas que eu sabia o que isto era? eu achava que sabia, se calhar sabia, mas levaste-me a outro nível. levámo-nos. e como é que eu sei disto agora? sabes como.
custa-me ser demasiado lamechas. sou-o na minha cabeça, mas quando ponho em palavras fica estranho, talvez feio. todas as cartas de amor são ridículas, não te importes, não são ridículas se só tu as leres.

no outro dia disseste não sei o quê sobre um filme. foi tão bom ouvir-te pensar. projectos e improvisos. estou contigo e não abro.


e foi isto tudo que eu pensei enquanto ouvíamos esta música ao vivo e eu te abraçava com força. se eu te tivesse dito que tinha uma bola feita de aço na minha goela, se eu te tivesse dito que sobrevivia, mas não disse, era mentira.

24.7.12

novidades


caros leitores,

tudo bem por aí? aqui também. tenho algumas novidades.
estive em roma durante duas semanas a propósito de um curso intensivo de cinema.
a cine cittá é um lugar lindíssimo e eu fiz questão de tirar uma fotografia como no antigamente.
tenho-me dedicado bastante ao projecto de música que tenho com o meu irmão há coisa de dois anos - mas, agora, já não é só uma brincadeira entre irmãos. assinámos um contrato com a sony music e temos estado em estúdio a trabalhar na actuação ao vivo. quem quiser saber mais pode clicar aqui.
tem feito calor aqui por estes lados, mas uma pessoa até gosta porque é verão. dá é vontade de ir para a praia. por falar em verão, aproveito para vos mostrar o nosso primeiro single. basta clicarem aqui. de resto, nada de especial para contar neste momento de extrema preguicite. 

tenho saudades vossas meus pequenitos.

23.6.12

henry

"Sento-me ao lado dela e ela fala, numa enxurrada de palavras. Notas selvagens e consumptivas de histeria, de perversão, de lepra. Não ouço uma palavra porque ela é bela, e amo-a, e sinto-me feliz e disposto a morrer."

Miller

22.6.12

a dona leonor, história verídica

a dona leonor tem a filha às portas da morte.
só quem conheceu esta dor é que pode compreender.
só quem é mãe consegue tentar imaginar.

a dona leonor não pôde esperar que a filha acordasse de uma operação extremamente delicada.
faltou dois dias ao trabalho e o casal para quem trabalha ficou verdadeiramente ofendido. o doutor não lhe dirigiu a palavra. como consolo, a doutora disse que "você faltou dois dias, a casa está cheia de pó". não há mais visitas ao hospital da outra cidade para a dona leonor, não há uma palavra de consolo pelos médicos que a empregam.

e se não voltar a ver a filha, que mal tem? foi por uma boa causa: os doutores precisam do almoço a tempo e horas. não toleram gente obstinada.

13.6.12

valsinha

"aconteceu que, por acaso do destino - por muito paradoxal que seja esta expressão - tiveram de explodir, cada um à sua maneira. é neste tipo de situações que um pensa como pensará, quem sabe?, o outro mantém-se expectante. revoltado. orgulhoso. magoados.
é difícil ver as coisas por fora, principalmente quando se está muito por dentro. demasiado. um dormirá, o outro chora e pensa, pensa e chora, nasce então uma coisa ainda mais assustadora que o próprio amor, o ódio. já lá estava, escondido? mas, ao fim e ao cabo, é só fingido, torcido com toda a ira deste mundo e do outro, com bochechas vermelhas quentes e molhadas e olhos que quase não abrem. caminhando pela casa, apercebe-se finalmente do porquê do cliché dos filmes de amor porque apetece-lhe partir (muitas!) coisas.
pegou na sua cólera com as mãos, não havia alternativa, e espalhou-a persistentemente com beijos receosos e mãos dadas. fingir-se que se dorme é um acto falhado do princípio ao fim. pouco viu, aos poucos sentiu, ouviu também que eu odeio-te, acreditou - e jura - ter ouvido as mais doces palavras, mas amo-te tanto.
um grande passo para o homem, reconhecia agora como coisas tão opostas podem andar tão coladas. lembrou-se de um dia ouvir dizer que só se sabe que se ama uma pessoa quando se consegue odiá-la, uma questão que lhe ocupou a mente durante uns tempos e sobre a qual novamente reflectia e, finalmente,

o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz."

25.5.12

listas

comidas, devíamos fazer uma lista.
música, temos mesmo de fazer uma lista das preferidas.
sonhos, viagens, nomes, cores, ideais, outras coisas que tais, antes de mais fazer uma lista sobre as listas todas que temos planeadas

3.5.12

a efemeridade das coisas

a efemeridade do tempo, da beleza, do sentimento, dos meus leitores.
onde é que está a minha paciência?


um dia cheguei a achar que podia vir a salvar o mundo.
um dia.
depois, ponho-me com divagações que significam sei lá o quê. no início o blogue era divertido, se calhar porque também eu o era, quiçá ter-me-ei tornado demasiado séria e chata para ter um blogue interessante.

29.3.12

sussurrando

aula.
- adorava conhecer o pedro quando ele era pequeno.
- porquê?
- porque ele devia ser malandreco. ó pra ele todo corado porque sabe que estamos a falar dele.
- shbabhshbahsbhbshshshb.
- desculpa mas não disseste nada.
- ah, pensei que tinha dito.

29.03

é como se me tivessem dado uma caneta e um papel, escreve, e eu afinal acho que já escrevi tudo o que tinha para escrever, já disse tudo o que tinha para dizer, já fiz muita coisa e se calhar é assim mesmo que tem de ser.

17.3.12

só podem estar a gozar comigo

não gosto de revistas de moda. não lhes ligo nenhuma porque não me interessam para nada. não me são indiferentes - não gosto delas, espalham maldade. lê-se três páginas e, para além de se odiar tudo e mais alguma coisa do mundo dito real, quer-se gastar dinheiro em coisas que não importavam mas que, agora, são imprescindíveis. por amor de deus.
as revistas de moda irritam-me mesmo, quanto mais não seja pelas páginas de histórias sórdidas e as fotografias de modelo a ocupar espaço só porque sim, quanto mais não seja pela excitação da mulher solteira e na casa dos trinta ao ler testemunhos ardentes e promíscuos de mulheres que traíram os maridos e sentem-se fantásticas, ou pelos artigos que mandam emagrecer, ter uma pele brilhante e lisa e um cabelo fantástico.
não me interpretem mal - acho que uma mulher deve cuidar de si e, se tiver gosto nisso, tanto melhor. mas quando abro uma revista destas parece-me que, afinal de contas, isso já não é propriamente uma escolha.
nestes últimos três dias vieram parar-me às mãos duas revistas deste género e não sei bem porquê - a primeira, veio com uma encomenda de livros que fiz e a segunda foi um brinde de uma coisa qualquer que a minha mãe comprou. para não chutar a revista para um canto, pus-me a folheá-la, e vi aquelas modelos idiotas em posições deficientes. uma tinha uma bela saia cheia de flores e eu pensei "porque não?", e concluí que se calhar sou demasiado radical, se calhar até dá jeito encontrar aqui roupas giras, vamos lá ver o preço da saia, onde é que será que encontro à venda?, e, de repente, €1.235 - mil duzentos e trinta e cinco euros.
sim, eu já sabia de antemão que havia roupa cara neste mundo e que algumas lojas que aparecem nestas revistas são do mais alto gabarito. até me pus a fazer contas de cabeça, quiçá não terá sido toda produzida à mão, com materiais raros, até que caio em mim. só podem estar a gozar comigo! da forma que está o país, como é que é admissível que publiquem coisas destas? eu não consigo perceber, juro que não. imaginei as mulheres todas por Portugal fora - e é certo que isto também se passa noutros países - obcecadas com este tipo de conteúdos a simplesmente encolherem os ombros enquanto viram a página e tentam lembrar-se se ainda têm dinheiro suficiente para a alimentação do mês.
por isso é que estas revistas andam a aparecer-me aos molhos, quem é que quer gastar dinheiro nisto? só se for aquela pequena percentagem que ainda resiste, que passa fome para poder comprar, mais umas quantas que têm realmente dinheiro para gastar em saias de mil euros.
o que é que se passa com os humanos?

16.3.12

mau humor

não sei porquê mas tenho jeito para isto, fizeram-me assim e pronto. é deixarem-me estar em paz que da minha boca só vão sair grunhidos, se me deixarem estar descansada o mundo continua rodando na sua habitual harmonia. obrigada

24.2.12

letras

«Finalmente estou só, envolvido pelo grande silêncio da terra. E este silêncio, tão profundo que nele se perdem o canto dos pássaros e o silvo do vento, liberta a minha alma. Quando nele mergulho, o deus fala-me, por vezes.
Nem sempre foi assim. Os deuses falam aos homens com vozes diferentes, conforme eles são capazes de entender. Os jovens ouvem essas vozes no estrépito das batalhas ou no acto do amor, os velhos aprendem a escutar de outra maneira.»

João Aguiar, A Voz dos Deuses

15.2.12

hoje de manhã ouvi isto e foi muito bom

on valentines day

sim, provavelmente é só mais um dia transformado em máquina de fazer dinheiro.
sim, o dia de são valentim deve ser quando um homem quiser.

mas a história do são valentim é bonita: era um bispo que, quando cláudio II decidiu proibir o casamento de forma a aumentar o número de jovens alistados no exército, continuou a realizar casamentos em segredo. por isso, foi decapitado no dia 14 de fevereiro.

so, let there be love.
e se este dia é mais um pretexto para se trocarem mimos, porque não? gosto deste dia como gosto do natal - não é preciso gastar dinheiro se se quer mostrar que se gosta. mostra-se isso todos os dias, e ontem não deveria ser excepção.

26.1.12

como me sinto

quando vêm falar comigo no facebook só para me pedirem que vote em não sei quê
(ultimamente tem acontecido demasiadas vezes)

What do you want of me? Tell me anything. But do what I beg you to do.

We've known each other many years, but this is the first time you came to me for counsel,
for help. I can't remember the last time that you invited me to your house for a cup of
coffee, even though my wife is godmother to your only child. But let's be frank here: you
never wanted my friendship. And uh, you were afraid to be in my debt. 



FUCK YOU BONASERA


25.1.12

"duas da manhã, mas a loja 'tá aberta, como sempre"

o que é que se passa entre mim e o álcool? dou-me ao luxo de passar muito tempo a pensar nesta questão. álcool. que palavrinha tão estúpida, com acento no A e dois Os. se tirarmos as vogais, quase que se ouvem os goles ou golos, que eu nunca soube como é que hei de escrever. LCL LCL LCL, faz as delícias da pequenada, mas para quê? in vino veritas? cadê o bom senso das pessoas para serem mais transparentes e deixarem-se fazer figuras idiotas sóbrias?
mas o meu problema não é propriamente esse. festas, alegria, parvoíce, álcool e música, abraços e beijos. tenho saudades, até. bebo dois copos e sinto logo a cabeça a aquecer, dá-me um soninho chato e fico sem inspiração para mais, só me lembro de notar que tenho frio, tenho fome, tenho sono e não me apetece falar. sabe bem a bejeca, vou beber outra e penso duas vezes, não me apetece mais, queria era estar na minha caminha a ler um livro.
são fases, deduzo. vai ser assim para sempre? oito e oitenta, não há aqui moderação? é nesta altura que me começo a assustar com as coisas que penso e questiono, pego numa cervejinha e sinto que estou a abraçar calorosamente o meu pior inimigo, que tonta, que fraquinha, que abestalhada, como diria o outro se ainda por aqui andasse...

pois é

"fica o dito e redito
por não dito
e é difícil dizer que foi bonito
é inútil cantar"

Chico Buarque

23.1.12

o tampo da sanita

uma coisa que sempre me intrigou, e não sei bem porquê, é a questão do tampo da sanita entre o homem e a mulher. não me lembro de alguma vez ter havido esse problema cá em casa, se calhar houve antes de eu nascer ou nunca cheguei a dar por isso, mas comecei a dar-me conta de que é um assunto sério na vida conjugal. deduzi-o, provavelmente, a partir de séries de comédia e de revistas cor-de-rosa e nunca percebi porque é que é a mulher a eterna injustiçada e o homem o derradeiro vilão da casa-de-banho. porque não o contrário?
a mulher queixa-se que o homem é rude e deixa o tampo para cima e é preciso muita força de vontade para que ele, finalmente, resista à preguiça de deixar a sanita tal como está. assim, quando a mulher vai dar resposta às suas necessidades básicas, tem em consideração a nobre atitude do seu companheiro e a relação anda sobre rodas. dá-me pena, uma vez que ele também poderia reclamar, com a mesma legitimidade, que ela poderia ter o cuidado de colocar o tampo de volta aonde ele o tinha deixado.
pus-me a fazer contas: a mulher usa o tampo para baixo 100% das vezes que vai à casa-de-banho; façamos uma estimativa para o homem, direi que o põe para cima 75% das vezes, o que significa que em 87,5% das utilizações totais o tampo deve estar colocado para baixo. estes números fazem-me apoiar as mulheres nesta interminável guerra, independentemente do facto de eu ser uma delas. no entanto, nunca fui de me chatear com isso, simplesmente porque acho que é justo que qualquer um dos elementos do casal prepare previamente a zona a ser afectada da forma que mais lhe agradar.

até ontem.

agora já percebo, por experiência própria, o verdadeiro porquê de toda esta discussão - e não podia deixar de partilhar com os meus leitores porque, quem sabe, muitos deles terão a mesma inquietação.
acordei e fui num instantinho aliviar a bexiga antes de me resolver a ir tomar o pequeno almoço. estava ainda ensonada e tinha alguma fome, portanto toda a acção decorreu de forma automática e, eis senão quando, desequilibro-me no derradeiro momento em que deveria estar comodamente sentada - porque o tampo não estava ali e, nestas ocasiões, 4 ou 5 centímetros fazem toda a diferença - e caio na sanita. desatei a praguejar contra o maldito que permitiu que aquilo acontecesse, acendeu-se uma luzinha na minha cabeça, como quem grita eureka, e pensei: tenho de escrever sobre isto no meu blogue.
agora, não sei qual das duas opções me parece mais conveniente: ou começo uma revolta a favor da minha integridade, ou tento ser mais atenta daqui em diante. acho que prefiro ir pela primeira.

22.1.12

às vezes detesto ficar meia hora à espera de me lembrar de um título que se adeque.


olá mãe,
daqui tudo bem,
penso um bocado em ti e acho que é normal. penso, sobretudo, em coisas para te dizer e logo lembro-me que não posso - mas são coisas triviais, como pedir a tua opinião sobre umas meias que comprei, ou fofocar sobre as últimas novidades.
não te preocupes, tenho deixado a casa arrumada e limpa como gostas, vou conhecendo um pouco mais de mim e rio-me. sou bem mais organizada e cuidadosa quando estou só e não consigo perceber porquê, talvez mo expliques um dia. gosto de me sentir uma verdadeira fada do lar, como costumava acontecer aos domingos, mas agora acontece todos os dias, cozinho com carinho, ontem até fiz apple crumble. também tenho tricotado e escrito muito. tenho, principalmente, aproveitado bem o sofá e o cão que me dá beijinhos sem parar. parece que assim não sinto tanto a ausência de gente. mas isto até sabe bem. ainda por cima temos a internet, os e-mails e o skype, às tantas a diferença entre estares do outro lado do oceano ou em sacavém é mínima.
não te preocupes, não sinto aquelas saudades tortuosas que uma pessoa não aguenta! sinto alguma falta de partilhar contigo a inquietação de, por exemplo, não saber o que fazer para o jantar, mas eu cá me viro. quando não estás sinto-me mais tu, acho que já te tinha dito, estamos a ficar muito mais parecidas do que eu pensava. não deve ser à toa que dizem que quando gostamos de uma pessoa, temo-la sempre em nós.
ando com muita vontade de escrevinhar, sinto-me inspirada e contente, tenho a dizer-te que saiu-me a sorte grande nos amigos que fiz, estou apaixonada e vejo estrelinhas e corações por todo o lado, ando tão lamechas e mimosa que pareço um bocado tontinha. esta carta vai a propósito de tudo isso, queria expressar-me e não sabia como. tenho saudades de te dizer estas coisas, que me digas que sou igual à tia e logo completes que sou muito tu, sou muito mãe, sou muito exigente, radical, romântica, preguiçosa, que sou demasiado emocional.
vais-me deixando seguir, com o teu ouvido preparado para qualquer catástrofe que daí surja, com as tuas palavras, às vezes doces, às vezes mais duras - mas tem de ser.

acho que é no banho que eu mais penso, deve ser da água, não sei... sabes quando desejamos podermos voltar atrás no tempo à filme para nos aconselharmos em momentos decisivos? ainda bem que te tenho a ti a cumprir-me essa função. ainda no outro dia dizia-me uma amiga que tu és mesmo fixe. quando crescer, quero ser como tu.

com amor,

cat

12.1.12

drama

esperava que, ao menos, hoje fizesse sol para não me apetecer enfiar a cabeça num tanque de água e sair de lá só daqui a um mês.

10.1.12

que remédio

ontem tive de ir ao hospital porque tive uns problemas com os ligamentos do meu polegar direito, já não é a primeira vez, e se uma coisa destas não fica bem curada estou lixada.
o que é que se passou?
pensava cá para mim que devia inventar uma desculpa mais interessante do que a verdade, quem é que distende os ligamentos a trancar uma janela? menos mal, não precisei de dar grande justificação. precisei, sim, de me lembrar do pior momento da minha vida para conseguir aguentar uma agulha na minha veia durante 15 minutos a pingar sei lá o quê, realmente, onde é que já se viu administrarem medicação intravenosa por causa de um mau jeito no dedo? quatro horas depois, apenas souberam dizer-me que não foi possível ver no raio-x o problema dos ligamentos, que para isso tenho de marcar uma consulta de ortopedia e de fazer uma ecografia. de qualquer das formas, eu que use uma tala e que evite ao máximo mexer o dedo, no caso de ter de fazer exames tiro a tala e seja o que deus quiser, porque de resto não há nada que possam fazer.
senti-me super idiota. por outro lado, fiz amizade com um senhor dos seus sessenta e muitos, cheguei a desejar-lhe as melhoras e tudo. acho que uma pessoa (ou se calhar só eu), nestes momentos de desespero, agarra-se a tudo quanto pode, e lá estava eu sozinha naquela sala a cheirar a éter, prestes a ser espetada sem dó nem piedade a falar com o senhor que não tinha medo nenhum, a dizer-lhe que um dia gostava de ser como ele. "uma pessoa habitua-se", respondeu-me, e depois lembrei-me do meu pai, lembrei-me de que há ali gente que já não há volta a dar, tem os dias contados e volta e meia volta para o hospital, e acaba internada até se cansar de tentar resistir. senti-me uma mariquinhas do pior. não achei justa a minha atitude, apesar de não ter conseguido controlá-la, sou tão covarde, vejo uma agulha e surgem-me logo aqueles piquinhos na visão e as pernas perdem a força. não achei justa a atitude do senhor cujo nome não me consigo lembrar, porque não tinha nada que estar habituado a procedimentos médicos incómodos.
mas é assim a vida, há gente estúpida e gente fixe, momentos de fracasso e também momentos felizes, que remédio. que remédio, sim senhor.

7.1.12

confiança

quando liberto toda a minha cabeça para ti e sei que recolhes as palavras que te deixo como tuas também e nem me lembro de sequer recear que não entendas.

2.1.12

coisas fixes e confusas que eu penso

dizer não é sentir,
sentir e dizer é
sentir e não dizer,
não é dizer e não sentir.
olhar pode ser dizer,
dizer é olhar e sentir,
olhar é sentir e não dizer