10.1.12

que remédio

ontem tive de ir ao hospital porque tive uns problemas com os ligamentos do meu polegar direito, já não é a primeira vez, e se uma coisa destas não fica bem curada estou lixada.
o que é que se passou?
pensava cá para mim que devia inventar uma desculpa mais interessante do que a verdade, quem é que distende os ligamentos a trancar uma janela? menos mal, não precisei de dar grande justificação. precisei, sim, de me lembrar do pior momento da minha vida para conseguir aguentar uma agulha na minha veia durante 15 minutos a pingar sei lá o quê, realmente, onde é que já se viu administrarem medicação intravenosa por causa de um mau jeito no dedo? quatro horas depois, apenas souberam dizer-me que não foi possível ver no raio-x o problema dos ligamentos, que para isso tenho de marcar uma consulta de ortopedia e de fazer uma ecografia. de qualquer das formas, eu que use uma tala e que evite ao máximo mexer o dedo, no caso de ter de fazer exames tiro a tala e seja o que deus quiser, porque de resto não há nada que possam fazer.
senti-me super idiota. por outro lado, fiz amizade com um senhor dos seus sessenta e muitos, cheguei a desejar-lhe as melhoras e tudo. acho que uma pessoa (ou se calhar só eu), nestes momentos de desespero, agarra-se a tudo quanto pode, e lá estava eu sozinha naquela sala a cheirar a éter, prestes a ser espetada sem dó nem piedade a falar com o senhor que não tinha medo nenhum, a dizer-lhe que um dia gostava de ser como ele. "uma pessoa habitua-se", respondeu-me, e depois lembrei-me do meu pai, lembrei-me de que há ali gente que já não há volta a dar, tem os dias contados e volta e meia volta para o hospital, e acaba internada até se cansar de tentar resistir. senti-me uma mariquinhas do pior. não achei justa a minha atitude, apesar de não ter conseguido controlá-la, sou tão covarde, vejo uma agulha e surgem-me logo aqueles piquinhos na visão e as pernas perdem a força. não achei justa a atitude do senhor cujo nome não me consigo lembrar, porque não tinha nada que estar habituado a procedimentos médicos incómodos.
mas é assim a vida, há gente estúpida e gente fixe, momentos de fracasso e também momentos felizes, que remédio. que remédio, sim senhor.

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