22.1.12

às vezes detesto ficar meia hora à espera de me lembrar de um título que se adeque.


olá mãe,
daqui tudo bem,
penso um bocado em ti e acho que é normal. penso, sobretudo, em coisas para te dizer e logo lembro-me que não posso - mas são coisas triviais, como pedir a tua opinião sobre umas meias que comprei, ou fofocar sobre as últimas novidades.
não te preocupes, tenho deixado a casa arrumada e limpa como gostas, vou conhecendo um pouco mais de mim e rio-me. sou bem mais organizada e cuidadosa quando estou só e não consigo perceber porquê, talvez mo expliques um dia. gosto de me sentir uma verdadeira fada do lar, como costumava acontecer aos domingos, mas agora acontece todos os dias, cozinho com carinho, ontem até fiz apple crumble. também tenho tricotado e escrito muito. tenho, principalmente, aproveitado bem o sofá e o cão que me dá beijinhos sem parar. parece que assim não sinto tanto a ausência de gente. mas isto até sabe bem. ainda por cima temos a internet, os e-mails e o skype, às tantas a diferença entre estares do outro lado do oceano ou em sacavém é mínima.
não te preocupes, não sinto aquelas saudades tortuosas que uma pessoa não aguenta! sinto alguma falta de partilhar contigo a inquietação de, por exemplo, não saber o que fazer para o jantar, mas eu cá me viro. quando não estás sinto-me mais tu, acho que já te tinha dito, estamos a ficar muito mais parecidas do que eu pensava. não deve ser à toa que dizem que quando gostamos de uma pessoa, temo-la sempre em nós.
ando com muita vontade de escrevinhar, sinto-me inspirada e contente, tenho a dizer-te que saiu-me a sorte grande nos amigos que fiz, estou apaixonada e vejo estrelinhas e corações por todo o lado, ando tão lamechas e mimosa que pareço um bocado tontinha. esta carta vai a propósito de tudo isso, queria expressar-me e não sabia como. tenho saudades de te dizer estas coisas, que me digas que sou igual à tia e logo completes que sou muito tu, sou muito mãe, sou muito exigente, radical, romântica, preguiçosa, que sou demasiado emocional.
vais-me deixando seguir, com o teu ouvido preparado para qualquer catástrofe que daí surja, com as tuas palavras, às vezes doces, às vezes mais duras - mas tem de ser.

acho que é no banho que eu mais penso, deve ser da água, não sei... sabes quando desejamos podermos voltar atrás no tempo à filme para nos aconselharmos em momentos decisivos? ainda bem que te tenho a ti a cumprir-me essa função. ainda no outro dia dizia-me uma amiga que tu és mesmo fixe. quando crescer, quero ser como tu.

com amor,

cat

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