27.5.10

pessoinha

a minha mãe costumava dizer que eu era a "pessoinha" dela. é uma palavra estranha de se escrever, mas não de se dizer. uma pessoinha é uma pessoa em tamanho pequeno. o meu irmão também era pessoinha dela. agora estamos grandes demais para ela nos chamar isso mas acho que, lá no fundo, nunca deixaremos de o ser.
eu também tenho uma pessoa, uma pessoinha.
obrigada senhor jesus por ma teres dado.

vou pôr a minha pessoinha numa gaiola e dar-lhe miminhos e biscoitos.

25.5.10

el amor en los tiempos de colera

"Chegou a reconhecê-la no meio da confusão, através das lágrimas da dor única de morrer sem ela, olhou-a pela última vez para todo o sempre, com os olhos mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos que ela jamais lhe vira em meio século de vida em comum, conseguindo dizer-lhe com o último suspiro:
- Só Deus sabe quanto te amei."


Gabriel García Márquez 

20.5.10

carta para o ar

foi o que te escrevi hoje, pode ser que um dia a leias. mas agora é proibido e o meu caderno está muito longe do teu corpo.

18.5.10

music


shall we dance, he asked, to what she answered we must, until my feet and my whole body turn to dust or, at least, until the end of this very night.

13.5.10

hetero, bi, homo. sexual

tu, fernanda, gostas de mulheres.
tu, carmen, gostas de homens (na verdade és um também).
tu, júlio, gostas daqueles que são como tu.
tu, dárcio, gostas de carmens, fernandas e júlios.
tu, beatriz, gostas de fernandas e de dárcios e de júlios e de carmens.
a vanessa só gosta de antónios, que só gostam de vanessas.

esta vida não passa de uma miscelânia sexual.

amanhã vamos à descoberta.
e estamos cheias de vontade de vos conhecer.

11.5.10

dois mil e doze

às vezes chego a interrogações sobre o sentido da vida caso ocorresse uma potencial tragédia nefasta por aqui, nesta minha cidade, ou simplesmente na minha vida.
os prédios começam a ruir e o pânico aglutina as ruas, pessoas aos gritos, sirenes estridentes, escuridão e medo. pronto, chegou a hora pensarei eu, apática, como aconteceu no dia do teste de psicologia, em que um avião, por mero acaso, sobrevoou a escola um pouco mais perto do que o normal e as paredes ressentiram com o ruído. chegou a hora, e que mais? o meu coração não acelera como nos filmes tenho aprendido, não desato aos guinchos com as mãos na cabeça. não, permaneço ali sentada, se sentada estiver, ou tranquila no meu sofá a escrever no blog, lamentando os coitados que em momento tão aterrorizador estarão a aliviar aquelas necessidades de que a natureza nos incumbiu.
acho que isto é o pânico. e agora?, e agora nada, todos os procedimentos que nos ensinaram estão escondidos debaixo da massa cinzenta, demasiado assustados para serem postos em prática. o vazio percorre-nos dos dedos dos pés à ponta dos cabelos e passam alguns segundos até que a histeria comece. no entanto, nesse breve intervalo de tempo há algo que nos surge como um arrepio. alguém, talvez.
e o tabuleiro de xadrez vira-se do avesso, e as peças tombam pelas ruínas da catástrofe e, finalmente, alguém encontrou o verdadeiro sentido da vida. finalmente, valoriza-se a begónia que sempre esteve ali e que foi sempre ignorada. arrisca-se a vida para a colocar a salvo porque, nesse momento, percebe-se o que é o amor.