acordei e senti calor - não demasiado. simplesmente o calor que sabe bem sentir num dia gélido de inverno. aquele calor humano que nos envolve o coração, a presença de quem se quer para sempre e desde sempre. a união, de facto.
notei que os meus sentidos se apuravam. pude desfrutar do silêncio absoluto, a casa dormia mas eu nem a ouvia respirar. pela primeira vez, nenhuma música se lembrou de ecoar na minha cabeça e eu, finalmente, conheci a inexistência do som.
nem sei bem como explicar concretamente, sentia-me um embrião no ventre materno.
abri os olhos e nem precisei de os mover - era como se eles estivessem já posicionados correctamente, enquanto eu dormia. abri-os e vi branco, vi o céu, consumido por uma luminosa e gigante nuvem branca. ramos nus de árvores balançavam-se lentamente, como se dançassem. formavam figuras japonesas, como um cortinado vivo. o silêncio do lá fora era diferente do de cá de dentro.
fiquei ali, perdi a noção do tempo e abandonei a minha mente aos seus devaneios. acho que, por momentos, até abandonei o meu corpo. senti-me, de certa forma, a morrer. é isto que se sente, tive a certeza. fiquei em paz com todo o mundo, e com todas as coisas boas e más que ele tem. se eu fosse agora, ia a transbordar de felicidade.
por muito estranho que pareça, aquele primeiro amanhecer deste ano e desta segunda década trouxe-me mais respostas do que os meus anteriores dezanove anos de vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário