"o meu nome é maria e sempre fugi deste momento. estou a fazer a cadeira de inglês III pela terceira vez e sou gay."
o desafio da apresentação oral de inglês é falar da pessoa que mais nos influenciou. é para muita gente um momento de partilha mais profundo - um pai ou uma mãe que morreu, o primo que foi atropelado, a tia que tem cancro... acho que cada um faz como entender. eu não sentia a menor necessidade de falar do meu pai, apesar da influência dele na minha vida ser inquestionável. apesar de ter ultrapassado bem, tinha medo de chorar, de me emocionar demasiado e tremer a voz - estamos a ser avaliados - e também não me apetecia muito abrir-me assim tanto com a turma. "oh, ela tem um pai morto" não me importo com isso mas, ao mesmo tempo, é um pouco da minha intimidade trazida ao de cima. falei do meu irmão, nunca menos importante,
a maria precisava de dar-se a conhecer para aceitar-se. ser gay é algo que ela não controla, o que não significa que tenha que ter vergonha. ela dizia "temos o gay pride quando, no fundo, não temos assim tanto orgulho". a pessoa que mais a influenciou foi a namorada, acabou por falar dela apenas no reflexo que a sua presença teve na vida dela.
é preciso muita coragem para isto. o pedro é hetero, pode bradá-lo aos ventos, ninguém vai ligar nenhuma porque é irrelevante. a maria é homo, e as pessoas podem pensar "ela que guarde isso para si" porque sentem-se chocadas. pelo que pareceu, a turma aceitou bem.
sabes a maria? ela é gay! a sério? começa um burburinho no intervalo, as pessoas com o gossip saciado, como se fosse algo bastante determinante. a orientação sexual é um tema ainda bastante delicado, mas é bom ver que se fazem progressos aqui e ali. quanto a mim, acho que devíamos tratar o assunto até com algum desapego para que se torne algo leve e simples, para que a palavra "gay" não acarrete tanta carga pesada.
como já diza o outro: quando é assim, é deixá-los estar.
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