28.10.11

por falar em aldeia global...

o conceito de aldeia global, para além de ser do conhecimento geral, é interessante. é um paradoxo em si, já que "globalização" não é uma palavra que tenha a ver com aldeia. é aí que está o seu propósito: numa aldeia todos se conhecem, as notícias correm depressa e facilmente se chega a qualquer lado. não sei bem porquê, mas eu associava aldeia a algo bom. "globalização", por sua vez, é um fenómeno que, apesar dos seus inúmeros aspectos positivos, incomoda-me.
na aldeia global, apesar da comunicação (maioritariamente virtual) ser demasiado facilitada, a comunicação dita real diminui. os vizinhos mal se conhecem, a tradição bairrista vai perdendo força, os amigos contam-se através do facebook e estamos todos em contacto de uma forma mórbida. eu não critico as redes sociais, mas sim a atitude geral que as acompanha. porque raio é que alguém que não me conhece de lado nenhum (mas que tem cinquenta amigos em comum comigo) me há-de enviar um pedido de amizade?
junta-se o que há de mau em "aldeia" e o que há de bom em "global", e não é justo.

por isso é que eu dou valor aos meus vizinhos - também considero-me com sorte neste aspecto. moro no último andar de um prédio e, no andar de baixo, há duas casas: a do joel e a do miguel. o joel tem cerca de 30 anos e vive sozinho há pouco mais de três anos; o miguel mudou-se há coisa de dois anos com os pais. são ambos bons vizinhos, daqueles que não forçam conversa no elevador, mas simplesmente falam sem rodeios sobre a vida. o joel é cabeleireiro e disse que eu fiz bem em cortar tanto o meu cabelo, convidou-me a ir ao salão dele um dia destes. o miguel toca piano no fim-de-semana e as notas ecoam pelas paredes da minha casa - é uma óptima maneira de acordar! o joel ouve música que eu gosto, pergunta-me pelo meu cão e pela minha mãe, tem confianças para me tocar às 2 da manhã porque se esqueceu das chaves. uma vez, no verão, fiquei a conversar com o miguel nas escadas até às 6 e tal da manhã. no outro dia mostrei-lhe uma queimadura no meu dedo e ele dispôs-se a emprestar-me uma pomada.

os mais velhos dizem que os garotos de hoje em dia não sabem o que é comunicar, só conhecem o computador e isolam-se do mundo. os mais velhos acham-se donos da razão. os jovens ainda gostam do mundo real e agarram-se a ele com unhas e dentes.

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