[06-09-2009 - pedaço de papel que encontrei numa mala que levei para o japão]
aeroporto de paris.
aeroporto de paris.
são 03:04 da manhã, 20:04 da noite ou sete da tarde, depende da perspectiva. eu estou a madrugar em pleno anoitecer.
o senhor do lixo do aeroporto.
o senhor do lixo do aeroporto.
não é um senhor do lixo qualquer, é talvez um senhor do lixo mais conhecedor, mais habituado a povos de outros mundos. mais preso e cada vez mais afundado na sua medíocre vida de imigrante da cor do chocolate, que não passa de um mero espectador da evolução do mundo. lá, preso à sua simples vida, com uma família para alimentar. sonhando com a viagem da sua vida, que sabe que não passa de uma ilusão desconexa. quiçá por causa do seu olho direito, que não foca o mesmo objecto que o esquerdo.
baixa a cabeça, como que se rendendo à sua posição na sociedade, escondendo aquele olho deslocado que olha mais além, olha mais humilde e menos conformado com o rumo que a vida tomou.
baixa a cabeça, como que se rendendo à sua posição na sociedade, escondendo aquele olho deslocado que olha mais além, olha mais humilde e menos conformado com o rumo que a vida tomou.
o boarding gate, ou lá como gostam de o chamar, abriu. os viajantes passam.
eu, a minha directa e os meus anéis brilhantes passamos.
a minha folha amarrotada passa.
o senhor do lixo fica.
como sempre.
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