hoje foi dia de coscuvilhar cadernos antigos da minha mãe. encontrei um que relatava uma viagem ao brasil, a primeira viagem que fiz, a viagem que delineou o esboço da minha identidade, a primeira viagem de muitas. foi nessa que conheci as minhas raízes, que conheci um pouco de mim. a minha adaptação àquele país foi instantânea, e tão cedo não me quis vir embora.
o excerto do diário de viagem da minha mãe fala de s.cristóvão, uma cidade nordestina aonde fomos passear um dia.
«Para tristeza da Catarina, só havia por lá umas flores pequeninas azuis que ela, como sempre, se entreteve a colher. Quando nos viémos embora, ela foi pôr uma flor na capela do Cristo e comentou: "Pus uma flor no Jesus e ele vai-me dar uma muito maior e mais bonita!"
À entrada para o carro encontrámos uma flor maior e amarela que parecia mesmo estar à espera da Catarina. Procurámos um pouco mais à volta, mas não encontrámos mais nenhuma flor como aquela.»
é curioso o aparecimento da flor bonita, mas não foi por isso que fiquei comovida. nunca imaginaria que pudesse ter dito uma coisa daquelas, achei engraçado. a cabeça da catarina de hoje não funciona nada assim. a catarina de hoje, quanto muito, diria isso com ironia, para se rir. poderia justificar a minha afirmação através da ingenuidade que tem uma criança de seis anos, mas terá sido só isso? às tantas foi, realmente, uma questão de fé. chego à conclusão de que era mais esclarecida quando era pequenina. descomplicar as coisas, olhar para o mundo de uma maneira tranquila e segura, seguir-se o que se sente. tenho pena que essa fé que eu demonstrava se tenha vindo a perder algures no tempo.
o excerto do diário de viagem da minha mãe fala de s.cristóvão, uma cidade nordestina aonde fomos passear um dia.
«Para tristeza da Catarina, só havia por lá umas flores pequeninas azuis que ela, como sempre, se entreteve a colher. Quando nos viémos embora, ela foi pôr uma flor na capela do Cristo e comentou: "Pus uma flor no Jesus e ele vai-me dar uma muito maior e mais bonita!"
À entrada para o carro encontrámos uma flor maior e amarela que parecia mesmo estar à espera da Catarina. Procurámos um pouco mais à volta, mas não encontrámos mais nenhuma flor como aquela.»
é curioso o aparecimento da flor bonita, mas não foi por isso que fiquei comovida. nunca imaginaria que pudesse ter dito uma coisa daquelas, achei engraçado. a cabeça da catarina de hoje não funciona nada assim. a catarina de hoje, quanto muito, diria isso com ironia, para se rir. poderia justificar a minha afirmação através da ingenuidade que tem uma criança de seis anos, mas terá sido só isso? às tantas foi, realmente, uma questão de fé. chego à conclusão de que era mais esclarecida quando era pequenina. descomplicar as coisas, olhar para o mundo de uma maneira tranquila e segura, seguir-se o que se sente. tenho pena que essa fé que eu demonstrava se tenha vindo a perder algures no tempo.
8 comentários:
Agora fico com esse, como o seu melhor post! =)
Nossa, maravilhoso!
Beijo!
Acho que a fé não se perde, deixámos de a usar, e sentir o instinto. Quando começamos a crescer, começamos e pensar e a construir problemas. Achamos que tudo deve ter e tem de ter uma explicação. No meio destes conflitos na cabeça, sao as memorias do coraçao que nos fazem voltar a nós. E sabe muito bem quando voltamos ao estado da infancia e encontramos momentos de ingenuidade, espontaniedade, sentimento puro....deviamos entregar mais flores, sem esperar colher alguma, no gesto de dar já existe a "colheita".
Beijinhos
É algo explicável,a perda da fé com o tempo. Deve-se a teres vindo a crescer não só física como mentalmente, ganhando uma capacidade maior de questionar o que foi/é imposto, e a medida que te foste questionando foste percebendo que afinal o que te fora outrora imposto como sendo uma verdade absoluta, afinal não passava de algo pouco credível.
Mas isso é bom, gosto de ver isso nas pessoas(principalmente hoje em dia).
Bom blog.
será que não passa de algo pouco credível? ou nós é que não nos damos ao trabalho de acreditar?
Darmo-nos ao trabalho de acreditar?
Forçar uma crença por mais absurda que ela seja, só porque nos foi ensinado que assim deveria ser, ou por medo da verdade?
Medo de não haver nada para além da morte.
Medo de que não exista um "Ele", onde nos possamos apoiar, nos momentos dificeis.
"Uma forma primitiva e desajeitada de uma pessoa fugir da realidade dura e sem sentido da vida"
Pepetela
O medo do desconhecido sempre foi mais forte do que, a vontade de ser realmente livre.
se pudê-se escolher hj em dia, nascia numa ilha, com meia duzia de gatos pingados, umas arvores de fruta, e pouco mais.
nada de influencias nem dum lado nem pro outro.
nem esquerda nem direita!
aí talvez a fé não signifique nada.
penso eu de que...
Não deixa de levantar alguma preocupação, as suas dúvidas, pois sou o seu professor de EMRC, no entanto, questionar-se é o primeiro passo para acreditar, a Fé um dom que só recebe que se dispõe a isso, continua...eu cá estarei para ajudar a procurar a criança que há em si...O Reino dos Céus é das criançinhas...
Querida Catarina:
Li o seu post e achei-o maravilhoso. Concordo plenamente, os "olhos" de uma criança têm uma percepção do mundo muito diferente da dada pelos "olhos" de um adulto. Quem sabe mais pura e verdadeira. Óbvio que não se trata de "visão" mas sim de percepção. Quanto à perda de fé, da infância até à adolescência, penso que poderá ter sido culpa de algum dos seus professores de EMRC(LOL)... e estou mesmo aqui ao lado de um deles que se recusa a assumir essa culpa.
Beijinhos: António Gameiro
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