o que é que se passa entre mim e o álcool? dou-me ao luxo de passar muito tempo a pensar nesta questão. álcool. que palavrinha tão estúpida, com acento no A e dois Os. se tirarmos as vogais, quase que se ouvem os goles ou golos, que eu nunca soube como é que hei de escrever. LCL LCL LCL, faz as delícias da pequenada, mas para quê? in vino veritas? cadê o bom senso das pessoas para serem mais transparentes e deixarem-se fazer figuras idiotas sóbrias?
mas o meu problema não é propriamente esse. festas, alegria, parvoíce, álcool e música, abraços e beijos. tenho saudades, até. bebo dois copos e sinto logo a cabeça a aquecer, dá-me um soninho chato e fico sem inspiração para mais, só me lembro de notar que tenho frio, tenho fome, tenho sono e não me apetece falar. sabe bem a bejeca, vou beber outra e penso duas vezes, não me apetece mais, queria era estar na minha caminha a ler um livro.
são fases, deduzo. vai ser assim para sempre? oito e oitenta, não há aqui moderação? é nesta altura que me começo a assustar com as coisas que penso e questiono, pego numa cervejinha e sinto que estou a abraçar calorosamente o meu pior inimigo, que tonta, que fraquinha, que abestalhada, como diria o outro se ainda por aqui andasse...
uma coisa que sempre me intrigou, e não sei bem porquê, é a questão do tampo da sanita entre o homem e a mulher. não me lembro de alguma vez ter havido esse problema cá em casa, se calhar houve antes de eu nascer ou nunca cheguei a dar por isso, mas comecei a dar-me conta de que é um assunto sério na vida conjugal. deduzi-o, provavelmente, a partir de séries de comédia e de revistas cor-de-rosa e nunca percebi porque é que é a mulher a eterna injustiçada e o homem o derradeiro vilão da casa-de-banho. porque não o contrário?
a mulher queixa-se que o homem é rude e deixa o tampo para cima e é preciso muita força de vontade para que ele, finalmente, resista à preguiça de deixar a sanita tal como está. assim, quando a mulher vai dar resposta às suas necessidades básicas, tem em consideração a nobre atitude do seu companheiro e a relação anda sobre rodas. dá-me pena, uma vez que ele também poderia reclamar, com a mesma legitimidade, que ela poderia ter o cuidado de colocar o tampo de volta aonde ele o tinha deixado.
pus-me a fazer contas: a mulher usa o tampo para baixo 100% das vezes que vai à casa-de-banho; façamos uma estimativa para o homem, direi que o põe para cima 75% das vezes, o que significa que em 87,5% das utilizações totais o tampo deve estar colocado para baixo. estes números fazem-me apoiar as mulheres nesta interminável guerra, independentemente do facto de eu ser uma delas. no entanto, nunca fui de me chatear com isso, simplesmente porque acho que é justo que qualquer um dos elementos do casal prepare previamente a zona a ser afectada da forma que mais lhe agradar.
até ontem.
agora já percebo, por experiência própria, o verdadeiro porquê de toda esta discussão - e não podia deixar de partilhar com os meus leitores porque, quem sabe, muitos deles terão a mesma inquietação.
acordei e fui num instantinho aliviar a bexiga antes de me resolver a ir tomar o pequeno almoço. estava ainda ensonada e tinha alguma fome, portanto toda a acção decorreu de forma automática e, eis senão quando, desequilibro-me no derradeiro momento em que deveria estar comodamente sentada - porque o tampo não estava ali e, nestas ocasiões, 4 ou 5 centímetros fazem toda a diferença - e caio na sanita. desatei a praguejar contra o maldito que permitiu que aquilo acontecesse, acendeu-se uma luzinha na minha cabeça, como quem grita eureka, e pensei: tenho de escrever sobre isto no meu blogue.
agora, não sei qual das duas opções me parece mais conveniente: ou começo uma revolta a favor da minha integridade, ou tento ser mais atenta daqui em diante. acho que prefiro ir pela primeira.
penso um bocado em ti e acho que é normal. penso, sobretudo, em coisas para te dizer e logo lembro-me que não posso - mas são coisas triviais, como pedir a tua opinião sobre umas meias que comprei, ou fofocar sobre as últimas novidades.
não te preocupes, tenho deixado a casa arrumada e limpa como gostas, vou conhecendo um pouco mais de mim e rio-me. sou bem mais organizada e cuidadosa quando estou só e não consigo perceber porquê, talvez mo expliques um dia. gosto de me sentir uma verdadeira fada do lar, como costumava acontecer aos domingos, mas agora acontece todos os dias, cozinho com carinho, ontem até fiz apple crumble. também tenho tricotado e escrito muito. tenho, principalmente, aproveitado bem o sofá e o cão que me dá beijinhos sem parar. parece que assim não sinto tanto a ausência de gente. mas isto até sabe bem. ainda por cima temos a internet, os e-mails e o skype, às tantas a diferença entre estares do outro lado do oceano ou em sacavém é mínima.
não te preocupes, não sinto aquelas saudades tortuosas que uma pessoa não aguenta! sinto alguma falta de partilhar contigo a inquietação de, por exemplo, não saber o que fazer para o jantar, mas eu cá me viro. quando não estás sinto-me mais tu, acho que já te tinha dito, estamos a ficar muito mais parecidas do que eu pensava. não deve ser à toa que dizem que quando gostamos de uma pessoa, temo-la sempre em nós.
ando com muita vontade de escrevinhar, sinto-me inspirada e contente, tenho a dizer-te que saiu-me a sorte grande nos amigos que fiz, estou apaixonada e vejo estrelinhas e corações por todo o lado, ando tão lamechas e mimosa que pareço um bocado tontinha. esta carta vai a propósito de tudo isso, queria expressar-me e não sabia como. tenho saudades de te dizer estas coisas, que me digas que sou igual à tia e logo completes que sou muito tu, sou muito mãe, sou muito exigente, radical, romântica, preguiçosa, que sou demasiado emocional.
vais-me deixando seguir, com o teu ouvido preparado para qualquer catástrofe que daí surja, com as tuas palavras, às vezes doces, às vezes mais duras - mas tem de ser.
acho que é no banho que eu mais penso, deve ser da água, não sei... sabes quando desejamos podermos voltar atrás no tempo à filme para nos aconselharmos em momentos decisivos? ainda bem que te tenho a ti a cumprir-me essa função. ainda no outro dia dizia-me uma amiga que tu és mesmo fixe. quando crescer, quero ser como tu.
ontem tive de ir ao hospital porque tive uns problemas com os ligamentos do meu polegar direito, já não é a primeira vez, e se uma coisa destas não fica bem curada estou lixada.
o que é que se passou?
pensava cá para mim que devia inventar uma desculpa mais interessante do que a verdade, quem é que distende os ligamentos a trancar uma janela? menos mal, não precisei de dar grande justificação. precisei, sim, de me lembrar do pior momento da minha vida para conseguir aguentar uma agulha na minha veia durante 15 minutos a pingar sei lá o quê, realmente, onde é que já se viu administrarem medicação intravenosa por causa de um mau jeito no dedo? quatro horas depois, apenas souberam dizer-me que não foi possível ver no raio-x o problema dos ligamentos, que para isso tenho de marcar uma consulta de ortopedia e de fazer uma ecografia. de qualquer das formas, eu que use uma tala e que evite ao máximo mexer o dedo, no caso de ter de fazer exames tiro a tala e seja o que deus quiser, porque de resto não há nada que possam fazer.
senti-me super idiota. por outro lado, fiz amizade com um senhor dos seus sessenta e muitos, cheguei a desejar-lhe as melhoras e tudo. acho que uma pessoa (ou se calhar só eu), nestes momentos de desespero, agarra-se a tudo quanto pode, e lá estava eu sozinha naquela sala a cheirar a éter, prestes a ser espetada sem dó nem piedade a falar com o senhor que não tinha medo nenhum, a dizer-lhe que um dia gostava de ser como ele. "uma pessoa habitua-se", respondeu-me, e depois lembrei-me do meu pai, lembrei-me de que há ali gente que já não há volta a dar, tem os dias contados e volta e meia volta para o hospital, e acaba internada até se cansar de tentar resistir. senti-me uma mariquinhas do pior. não achei justa a minha atitude, apesar de não ter conseguido controlá-la, sou tão covarde, vejo uma agulha e surgem-me logo aqueles piquinhos na visão e as pernas perdem a força. não achei justa a atitude do senhor cujo nome não me consigo lembrar, porque não tinha nada que estar habituado a procedimentos médicos incómodos.
mas é assim a vida, há gente estúpida e gente fixe, momentos de fracasso e também momentos felizes, que remédio. que remédio, sim senhor.
quando liberto toda a minha cabeça para ti e sei que recolhes as palavras que te deixo como tuas também e nem me lembro de sequer recear que não entendas.