30.4.10

ontem, dia mundial da dança

e, por isso, passámos a aula de educação física a dançar sem parar - é claro que o general não estava presente.

ontem, dia mundial da dança.
hoje, estou com o corpo dorido.
e sabe bem!

27.4.10

anticonstitucionalissimamente

há uns anos atrás, estava numa situação de convívio social forçado (detesto esses momentos). não me lembro com quem nem onde estava, mas não tinha quaquer tipo de confiança com as pessoas e eram todas mais velhas que eu. reinando o silêncio, decidi intervir a favor de todos:
- sabiam que a maior palavra portuguesa é "anticonstitucionalissimamente"? - sabia-o porque, naquela altura, havia cartazes publicitários com a palavra. todos se mostraram falsamente surpresos mas um senhor, já de idade, respondeu-me com arrogância:
- anti-inconstitucionalissimamente? isso nem sequer é uma palavra! ou é anti, ou é "in", não podem ser as duas. essa palavra não existe.
não só por me envergonhar à frente de todos, mas também por não me ter compreendido com clareza, peguei na bengala do pobre e inoportuno senhor e espetei-lhe na garganta, esperando que ele morresse - isto, ao nível do meu intelecto. na verdade, esbocei um sorriso amarelo e, derrotada por um batoteiro, voltei às músicas da minha cabeça. não valia a pena contradizê-lo; o meu objectivo era iniciar uma longa conversa sobre curiosidades, ou algo do género, não era entrar numa discussão sobre a forma mais eficaz de melhorar a qualidade de vida dos surdos.
a palavra anticonstitucionalissimamente é objecto de idolatria por toda a internet e arredores, já que tem vinte e nove caracteres e é, de facto, a maior palavra da língua portuguesa. isto chateia-me, porque é uma palavra horrorosa e o seu significado é enervante, porque remete para o conhecimento de direito a pessoas que não percebam do assunto. eu, pessoalmente, nunca ouvi essa palavra em nenhum contexto. ninguém precisa dela a não ser os crânios que utilizam o chatroulette para efeitos não aconselháveis.
e daí, ser a maior palavra? há palavras bem mais divertidas e úteis. tertúlias sobre palavras engraçadas são um aconchego para a alma: funesto, sumptuoso, sobejo, asno, estoicismo, adenóides, trepidar, chulé, frenesim (...) - muito melhor que otorrinolaringologista ou anticonstidjifnsdogfsdglsdmamente!

20.4.10

bárbara

estavas no pensamento da bárbara como a mão da lídia estava na mão do ricardo.

o casal observava o rio juntos, em silêncio, porque de nada lhes valia agir. e não te digo isto por gostar de poesia; eu gosto, sim, mas não da de ricardo reis.
percebes agora o irónico da questão?
não gosto disto como não gosto dele, vejo-o isolado no seu sofrimento de menosprezar o amor porque a vida, um dia, acaba.

a bárbara odeia isto tudo.
tudo o quê? tudo o que há.

vejamos; ela simpatiza com a perspectiva de uma vida vazia de dor e tristeza. o amor implica, para ela, uma certa dor e tristeza. e isso não é mau, porque lhe faz sentir cubos de gelo a rebolar nas suas costas febris. é uma mistura de alívio e sensação aguda que, ao primeiro toque, dá vontade de rejeitar. mas, depois, a postura estóica com que ela se permite entregar à dor está repleta de romancismo e êxtase.
por isso é que ela pensa em ti. quanto mais silêncio lhe deres, mais ela sorri enquanto dorme, mais infantil e ingénua se sente, mais febril se torna a pele das suas costas - e, agora, o corpo todo.
assim que soube o débil silêncio com que te expressaste na missa, assim que compreendeu que o mundo é redondo e nada poderá fazer para o impedir, esticou-se na cama e inspirou todo o ar que havia à sua volta.
bárbara não pode deixar de ser mulher, não pôde nunca, e, com ricardo e lídia na cabeça, procurou o teu silêncio com os dedos.

e, por isso, sorri enquanto dorme.

17.4.10

they made it to the moon

dantes incomodava-me que pequenas metáforas não chegassem aos olhos de quem eu queria, quanto mais ao cérebro e à alma. não conseguia conceber como é que era possível existir alguém tão sem vontade. as coisas mudam, é certo como as chuvas em abril, e afinal era assim que era suposto ser.
ao alcance de quem quiser, procuro as palavras menos perceptíveis e adequadas, tão opostas ao verdadeiro sentido do meu pensamento, que já nem metáforas se podem chamar. e, assim, já nem para niguém servem a não ser para mim, não havendo, portanto, razão para perder tempo com tantas teclas.
acabou-se a urgência de escrever. urgências era o que estava cravado na minha garganta para eu deixar que fluisse tudo, às vezes era difícil de controlar a saída de pacientes. eles decidem ficar-se por lá e formam um quisto perto das amígdalas; nunca soube explicar muito bem este fenómeno - as emoções assolam-nos e as coisas boas e más juntam-se todas na garganta, talvez numa disputa infantil para ver quem faz explodir melhor.
qu'est-ce que je vais dire? qu'est-ce que tu veux de moi?
l'important c'est pas la chute. c'est la atterrissage. et moi, j'attente le destin.

12.4.10

compreendeu então que o amara ininterruptamente, desde aquela manhã de cacimbo, cinzenta e melancólica, em que lhe admirara os dedos pela primeira vez.

josé eduardo agualusa, as mulheres do meu pai

7.4.10

2/4/2010

o aeroporto é o pior lugar para um encontro - especialmente para o primeiro.
não importa de que aeroporto se trate e, às vezes, também não importam as pessoas envolvidas, isto é, os "soon to be" enamorados.
convém, sim, saber como é que tem andado o sono dos interessados nas últimas doze horas, independentemente do idioma que falem, algo impossível de se verificar a olho nu.
poderá ser perigoso estabelecer-se contacto com pessoas em jet leg; falo por mim. com inúmeras horas de sono em falta, eu posso ser colocada ao mesmo nível que um hipopótamo enfurecido.