17.3.12

só podem estar a gozar comigo

não gosto de revistas de moda. não lhes ligo nenhuma porque não me interessam para nada. não me são indiferentes - não gosto delas, espalham maldade. lê-se três páginas e, para além de se odiar tudo e mais alguma coisa do mundo dito real, quer-se gastar dinheiro em coisas que não importavam mas que, agora, são imprescindíveis. por amor de deus.
as revistas de moda irritam-me mesmo, quanto mais não seja pelas páginas de histórias sórdidas e as fotografias de modelo a ocupar espaço só porque sim, quanto mais não seja pela excitação da mulher solteira e na casa dos trinta ao ler testemunhos ardentes e promíscuos de mulheres que traíram os maridos e sentem-se fantásticas, ou pelos artigos que mandam emagrecer, ter uma pele brilhante e lisa e um cabelo fantástico.
não me interpretem mal - acho que uma mulher deve cuidar de si e, se tiver gosto nisso, tanto melhor. mas quando abro uma revista destas parece-me que, afinal de contas, isso já não é propriamente uma escolha.
nestes últimos três dias vieram parar-me às mãos duas revistas deste género e não sei bem porquê - a primeira, veio com uma encomenda de livros que fiz e a segunda foi um brinde de uma coisa qualquer que a minha mãe comprou. para não chutar a revista para um canto, pus-me a folheá-la, e vi aquelas modelos idiotas em posições deficientes. uma tinha uma bela saia cheia de flores e eu pensei "porque não?", e concluí que se calhar sou demasiado radical, se calhar até dá jeito encontrar aqui roupas giras, vamos lá ver o preço da saia, onde é que será que encontro à venda?, e, de repente, €1.235 - mil duzentos e trinta e cinco euros.
sim, eu já sabia de antemão que havia roupa cara neste mundo e que algumas lojas que aparecem nestas revistas são do mais alto gabarito. até me pus a fazer contas de cabeça, quiçá não terá sido toda produzida à mão, com materiais raros, até que caio em mim. só podem estar a gozar comigo! da forma que está o país, como é que é admissível que publiquem coisas destas? eu não consigo perceber, juro que não. imaginei as mulheres todas por Portugal fora - e é certo que isto também se passa noutros países - obcecadas com este tipo de conteúdos a simplesmente encolherem os ombros enquanto viram a página e tentam lembrar-se se ainda têm dinheiro suficiente para a alimentação do mês.
por isso é que estas revistas andam a aparecer-me aos molhos, quem é que quer gastar dinheiro nisto? só se for aquela pequena percentagem que ainda resiste, que passa fome para poder comprar, mais umas quantas que têm realmente dinheiro para gastar em saias de mil euros.
o que é que se passa com os humanos?