13.1.16

827 dias

827 dias.

São muitos dias.

São dois anos e três meses de ausência.

Eu não parei de escrever, escrevo muito para mim. Mas houve qualquer coisa, algum baque que se deu no espaço e no tempo que me fez retrair-me e guardar tudo o que escrevo para mim. Estive seis meses em Roma e, durante esse período, escrevi um blogue, mas rapidamente parei de partilhar o que se passava na minha cabeça, na minha vida, na minha emocionante descoberta de outro mundo. Tenho pena, confesso. Mas às vezes a escrita fica simplesmente bloqueada, tanto para os outros como para nós, e foi isso que aconteceu. Quando é assim, deixo estar.

Já há algum tempo que venho a pensar em fazer um novo blogue. Ou recuperar o antigo. Tenho vontade de cortar com o antigo e não queria deixar apenas um vazio. Achei que este blogue merecia uma despedida digna.
Voltando à contagem dos dias, 2639 dias desde que comecei este blogue.
Oito anos.
Maravilhoso.

Mas já acabou, cheio de teias de aranha, por isso explorem à vontade e divirtam-se à procura de quem eu era há alguns anos.

Agora estarei aqui.

Adeus.

Catarina

16.9.13

tendo o coração vazio, vivo assim a dar psiu

hoje começo as aulas do meu primeiro mestrado. sinto-me bem. sinto-me melhor. sinto-me mulher. 
sinto saudades do meu pai.

3.12.12

hipocrisia

sinto que estou a ficar feia e má, que estou a crescer e a tornar-me na bruxa da branca de neve, não gosto do que oiço dizer, não gosto das más-línguas nem me interessa saber quem andou a foder quem, e como, são palavras feias e más, mas eu não posso fazer nada senão aceitar que me contem mil e uma coisas que, eu juro, não me interessam nem me vão interessar nunca nesta vida nem na outra. sinto até que é errado pôr um ponto final no texto, tenho frio e estou triste porque olho à minha volta e dá-me cada vez mais vontade de sair daqui para fora, porque ninguém diz nada que preste, e o problema é que acham que presta, ninguém é capaz de ser gente a sério e eu, no meio disto tudo - porque não quero estar com falsas modéstias - penso que estou errada, que sou severa e má e, por isso, faço um esforço por deixar transparecer a minha faceta que acata histórias mirabolantes do diz que disse, tento participar e digo que disse... no entretanto, sinto constantemente uma luta na minha cabeça entre o que eu sou e o que os outros estão à espera que eu seja. e sinto-me mal por ter gastado o meu latim em tão ignóbil discurso. nunca pensei que fosse tão difícil. tudo isto faz-me sentir má. não é correcto ter à minha frente a miúda super fixe e irreverente e apetecer-me dizer-lhe que ela é ridícula, que devia perder mais tempo a pensar em coisas que realmente importam e que as palavras que ela diz me serviam perfeitamente para limpar o rabo.
e não digo. e mantenho-me camuflada, porque uma pessoa deve ter sempre tento na língua. e pergunto-me se foi tento na língua que tive, ou se fui simplesmente hipócrita. e como é que eu posso criticar a hipócrita que maldiz tanto tanta gente? maldizente que, depois, em momentos mais privados, brada que cada vida é de cada um, e pergunta qual será a razão de tanta mesquinhez, que malvados que são todos. mentira. é o pior de tudo. essas pessoas camufladas. são feias... e eu pergunto-me como é que as outras pessoas não notam; bom, talvez notem como eu, que ajo como se nada fosse. mas o mais plausível é que simplesmente não notem, porque são farinha do mesmo saco. e pergunto-me, como é que elas próprias não notam - que, na verdade, notam, pois se não notassem eram comprovadamente loucas, ou então o problema é mesmo da sociedade que devia prestar mais atenção a gente deste tipo e colocá-la no hospício. eu tenho para mim que são simplesmente malvadas, corrompidas e desrespeitosas para consigo mesmas. e acho que não há nada pior.
e nada fica mais bonito, as pessoas continuam a ser desesperantes, eu continuo desesperada e juro que um dia, quando finalmente deixar de ser hipócrita, desapareço daqui por uma boa temporada.

6.11.12

a música às vezes faz mal

completamente atacada por umas alergias assassinas. o meu corpo virou-se contra mim. já devia era ter marcado alergologista, uma pessoa vai deixando andar porque não parece que é preciso e ZÁS, lá vem a porcaria da alergia outra vez, cada vez com mais força e destreza, pronta para me arrumar a um canto. escusado será dizer que estou a demorar séculos só para escrever uma frase, mas eu tenho de lutar contra ela, não vou render-me assim tão facilmente.
eu diria que não é doloroso, é incómodo; mas, pensando bem, de tão incómodo que é, dói. porque eu aguento bem um nariz em ferida, já sofri mais, arde apenas. mas, tendo de me assoar a cada dois minutos, esta porcaria acaba por custar. e, no meu crânio, sinto que estou incessantemente a inspirar água com força - aqueles piquinhos que vêm desde o cocuruto até ao nariz e que fazem os olhos chorar e fechar.
só me lembro, como consolo, daquela vez em que tive uma infecção urinária. andava há uns dias a ouvir um cd de interpretações de músicas de bossanova no meu carro - isto pode não parecer muito adequado de referir, mas até é - até que, nessa altura, acordei de madrugada com uma súbita vontade de fazer xixi. mas não era uma vontade normal, era uma vontade que ameaçava matar-me se eu não fosse a correr à casa-de-banho. percebi logo que se passava alguma coisa e custou me muito adormecer, porque  durante as piscinas entre o quarto e a casa-de-banho, cada vez me sentia pior. isso sim, é que foi dor. o pior é que não me saíam da cabeça aquelas belas músicas de bossanova; ecoavam repetida e arrastadamente na minha cabeça, como se tocassem num gira-discos estragado. eu, sentada na sanita e cheia de sono, cantava-as para ver se saíam da minha cabeça de uma vez por todas, e nada. levava as mãos à cara, quase que adormecendo, tentando pensar noutra coisa. mas lá voltavam a assombrar-me aquelas músicas, sem dó pela minha condição.
foi um verdadeiro pesadelo.
por isso, sempre que estou doente ou me dói alguma coisa, lembro-me daquela mítica noite. e nunca mais fui capaz de ouvir aquele cd, nem nunca mais voltei a mexer nele. e nunca mais fui tão infeliz.

14.8.12

11 corações

se eu te dissesse que tenho uma bola feita de aço presa na minha goela.
se eu te dissesse que sobrevivo.
que esta dor vai ser tão dura quanto boa.
faz doer lentamente, arranha com carinho, tem toda a paciência do mundo para ficar por aqui a descansar.
e sabe que depois de tanto tempo vai ser doce e morno, cheirar por cima do teu lábio, as pernas entrelaçadas e risos a tarde inteira.

achavas que eu sabia o que isto era? eu achava que sabia, se calhar sabia, mas levaste-me a outro nível. levámo-nos. e como é que eu sei disto agora? sabes como.
custa-me ser demasiado lamechas. sou-o na minha cabeça, mas quando ponho em palavras fica estranho, talvez feio. todas as cartas de amor são ridículas, não te importes, não são ridículas se só tu as leres.

no outro dia disseste não sei o quê sobre um filme. foi tão bom ouvir-te pensar. projectos e improvisos. estou contigo e não abro.


e foi isto tudo que eu pensei enquanto ouvíamos esta música ao vivo e eu te abraçava com força. se eu te tivesse dito que tinha uma bola feita de aço na minha goela, se eu te tivesse dito que sobrevivia, mas não disse, era mentira.

24.7.12

novidades


caros leitores,

tudo bem por aí? aqui também. tenho algumas novidades.
estive em roma durante duas semanas a propósito de um curso intensivo de cinema.
a cine cittá é um lugar lindíssimo e eu fiz questão de tirar uma fotografia como no antigamente.
tenho-me dedicado bastante ao projecto de música que tenho com o meu irmão há coisa de dois anos - mas, agora, já não é só uma brincadeira entre irmãos. assinámos um contrato com a sony music e temos estado em estúdio a trabalhar na actuação ao vivo. quem quiser saber mais pode clicar aqui.
tem feito calor aqui por estes lados, mas uma pessoa até gosta porque é verão. dá é vontade de ir para a praia. por falar em verão, aproveito para vos mostrar o nosso primeiro single. basta clicarem aqui. de resto, nada de especial para contar neste momento de extrema preguicite. 

tenho saudades vossas meus pequenitos.

23.6.12

henry

"Sento-me ao lado dela e ela fala, numa enxurrada de palavras. Notas selvagens e consumptivas de histeria, de perversão, de lepra. Não ouço uma palavra porque ela é bela, e amo-a, e sinto-me feliz e disposto a morrer."

Miller

22.6.12

a dona leonor, história verídica

a dona leonor tem a filha às portas da morte.
só quem conheceu esta dor é que pode compreender.
só quem é mãe consegue tentar imaginar.

a dona leonor não pôde esperar que a filha acordasse de uma operação extremamente delicada.
faltou dois dias ao trabalho e o casal para quem trabalha ficou verdadeiramente ofendido. o doutor não lhe dirigiu a palavra. como consolo, a doutora disse que "você faltou dois dias, a casa está cheia de pó". não há mais visitas ao hospital da outra cidade para a dona leonor, não há uma palavra de consolo pelos médicos que a empregam.

e se não voltar a ver a filha, que mal tem? foi por uma boa causa: os doutores precisam do almoço a tempo e horas. não toleram gente obstinada.

13.6.12

valsinha

"aconteceu que, por acaso do destino - por muito paradoxal que seja esta expressão - tiveram de explodir, cada um à sua maneira. é neste tipo de situações que um pensa como pensará, quem sabe?, o outro mantém-se expectante. revoltado. orgulhoso. magoados.
é difícil ver as coisas por fora, principalmente quando se está muito por dentro. demasiado. um dormirá, o outro chora e pensa, pensa e chora, nasce então uma coisa ainda mais assustadora que o próprio amor, o ódio. já lá estava, escondido? mas, ao fim e ao cabo, é só fingido, torcido com toda a ira deste mundo e do outro, com bochechas vermelhas quentes e molhadas e olhos que quase não abrem. caminhando pela casa, apercebe-se finalmente do porquê do cliché dos filmes de amor porque apetece-lhe partir (muitas!) coisas.
pegou na sua cólera com as mãos, não havia alternativa, e espalhou-a persistentemente com beijos receosos e mãos dadas. fingir-se que se dorme é um acto falhado do princípio ao fim. pouco viu, aos poucos sentiu, ouviu também que eu odeio-te, acreditou - e jura - ter ouvido as mais doces palavras, mas amo-te tanto.
um grande passo para o homem, reconhecia agora como coisas tão opostas podem andar tão coladas. lembrou-se de um dia ouvir dizer que só se sabe que se ama uma pessoa quando se consegue odiá-la, uma questão que lhe ocupou a mente durante uns tempos e sobre a qual novamente reflectia e, finalmente,

o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz."

25.5.12

listas

comidas, devíamos fazer uma lista.
música, temos mesmo de fazer uma lista das preferidas.
sonhos, viagens, nomes, cores, ideais, outras coisas que tais, antes de mais fazer uma lista sobre as listas todas que temos planeadas

3.5.12

a efemeridade das coisas

a efemeridade do tempo, da beleza, do sentimento, dos meus leitores.
onde é que está a minha paciência?


um dia cheguei a achar que podia vir a salvar o mundo.
um dia.
depois, ponho-me com divagações que significam sei lá o quê. no início o blogue era divertido, se calhar porque também eu o era, quiçá ter-me-ei tornado demasiado séria e chata para ter um blogue interessante.