20.2.09

não sei

não sei - acho que é isto.
Contagem decrescente para Taizé, e é disso que se trata o meu post. não posso dizer em que é que consiste o que se segue, dado que não sei. e aí está: não sei.

nunca fui a Taizé, nem nunca estive numa comunidade ecuménica. não sei o que vai acontecer por lá, não sei quais são os meus objectivos nem sei quais as minhas expectativas. não sei o que é que vai mudar em mim. mas sei que algo se transformará - ou ME transformará. no entretanto, fica a incógnita.
acho que em Taizé poderá acontecer o que eu há muito desejo - isolamento interior, limpeza de corpo e alma, aperfeiçoamento do conhecimento pessoal e interpessoal. e, à parte disto, gostava de encontrar algumas respostas. a quê e como, não sei também.
no fundo, o que espero de Taizé é poder contrariar estes "não seis" com algo mais concreto.

vou aproveitar o distanciamento da metrópole para estar só e apenas comigo e com outros e encontrar (nem que seja por dez dias apenas) o meu verdadeiro eu.



para os restantes, boas férias de carnaval!

17.2.09

a trupe de quem?

a minha trupe. a minha gente.
obrigo-me sempre a acreditar que o fim de uma coisa significa sempre o início de outra.
a palavra fim não tem que ser necessariamente associada a algo negativo.
as experiências e as pessoas enriquecem-nos, mas gostava de fazer um especial destaque para o factor "pessoas". quem sabe, sabe, hoje apetece-me estar com meias palavras.
eles são os meus meninos, eu adoro-os daqui à lua.

14.2.09

s'embora, encalhados

hoje é dia dos namorados. o que é que isto quer dizer? que a maior parte dos casais deste país estará, neste momento, a copular. não há-de ser um fenómeno que aconteça todos os dias.

para mim, tudo na mesma; hoje foi um dia como os outros. e não me queixo.

passaram reportagens e programas sobre o dia de hoje na televisão, mas eu não vi nenhum. e tenho pena. podia ser que eu tivesse aparecido.

porque é que haveria eu de aparecer?
porque numa bela tarde de sexta, estava eu com o doggie a laurear a pevide pela baixa, quando uns senhores repórteres (que nós já estávamos a topar há uns quinze minutos) abordaram-nos, a apontar-nos com a câmera como se não tivéssemos fuga possível, e perguntaram-nos se acreditávamos no amor para sempre.

doggie: não.
eu: sim.
senhor repórter: então e porquê?
eu: porque, se duas pessoas sentem amor uma pela outra, podem fazer um esforço para que dure para toda a vida.
doggie: pois.... isso faz sentido, realmente...
eu interrompo: então?! mas tinhas dito que não acreditavas!
doggie: ah, é verdade... eh pá, já estragámos tudo!
senhor repórter: mais uma pergunta - o que representa para vocês o dia dos namorados?
doggie: bom, eu acho que é só mais um pretexto para se gastar dinheiro em presentes que se podiam dar todos os dias...
eu interrompo, uma vez mais: É SÓ MAIS UM PRETEXTO PARA AS PESSOAS SOLTEIRAS SE SENTIREM SOZINHAS.... ainda mais sozinhas!

e pronto. é mais ou menos isto que eu tenho a dizer sobre o dia 14 de fevereiro. não podia deixar passar. se não aparecemos na televisão, então aparecemos no meu blog!
toma, RTP2, agora já expus ao mundo.

de resto... desejo um resto de dia de S.Valentim feliz para todos (falta meia hora para acabar, aproveitem). -> make love not war <-

12.2.09

histórias de Portugal

o autocarro hoje andava aos trambolhões e, exactamente por isso, os meus pensamentos também.
tanta gente de idade, tantas memórias que para ali circulavam no ar, dado o silêncio que se fazia sentir. maior parte dessa gente haveria de se sentir sozinha, e por isso é que os mais velhos às vezes falam para o ar: no meio da rua, no autocarro... sentem-se sozinhos. morreram-lhes as famílias e contam os dias até deixarem este mundo. é realmente triste.

o povo português anda descontente. a culpa não sei de quem é, vejo isso desde que me lembro. a cara da urbe é pesada, triste, preocupada.
daqui a quinze anos, metade dos transeuntes que vejo estarão debaixo de terra, porque Portugal está envelhecido e ninguém vive para sempre. sei que não é bonito pôr-se as coisas desta maneira, mas é verdade e todos sabemos.

e para onde é que vão as memórias, quando não são passadas de boca em boca?
que será feito das histórias que os velhotes contam com orgulho, do Portugal de outrora? muitas delas ficarão perdidas por causa da intrusa solidão.


quando dei por ela, tinha uma arma no meu bolso - mais concretamente, uma pistola. ocorreu-me um "eh, lá!" e, depois de minutos em estado de choque, pensei:
andar com pistolas é mau agoiro, pelo menos para mim, que quero ir para casa descansada e ainda aparece o pica e vê-me isto. olha, afinal de contas, pouco me importa. as pistolas não são baratas para se andar a -las nos bolsos dos outros. portanto, das duas, uma:
1.ou foi alguém que se enganou.
2.ou foi Deus que me quis pregar uma partida e eu tenho de reagir.

escolhi a hipótese mais engraçada.

PuM pUm PUm PUM!

a primeira reacção dos meus companheiros de viagem foi atirarem-se ao chão. eu não acertei em ninguém, nem era essa a minha intenção. os tiros foram para o ar.
- quero toda a gente a contar-me as suas memórias JÁ! - gritei, imponente. as vítimas continuavam imóveis. - vá, não quero que me interpretem mal. ninguém se vai magoar que eu ainda tenho de estudar Português. por isso, se fizerem o favor, não demorem uma eternidade. - sendo que ninguém tomava a iniciativa, especifiquei - pode começar por aquele senhor ali de bóina.

9.2.09

nove

disseram-me:

"a humanidade.
o número raiz do presente estado de evolução humana.
o número de Adão.
o número da iniciação: assinala o fim de uma fase de desenvolvimento espiritual e o início de outra fase superior.
as 9 esferas celestes e os 9 espíritos elevados que as governam.
o ilimitado.
os 9 orifícios do corpo humano.
os 9 meses da gravidez.
o número dos ciclos humanos temporais na Terra."

o dia do meu aniversário.
idade com que eu mudei de escola pela primeira vez.
último algarismo do presente ano.
dia de hoje.
os 9 anos que tem o meu diário.
hoje, a minha semi-solidão completa nove meses.



olhei para o papel.
- é esquisito, não é?
- que carimbo é este?
- é para mostrar que é oficial, autenticado.
ela ficou a olhar para o papel. não havia muito que se lhe dissesse, mas eu achava que sim. "é pouco, como isto, que me resta" pensei. "e isto nem são memórias. há-de ser uma tentativa de banalizar uma ausência." tão irritante, tão destrutivo, ler aquilo!, que me apetecia rosnar.
nem sabia muito bem como lhe explicar porque é que sentia isto. a velha frase "tu nunca passaste por isto, não sabes como é" pareceu-me escusada. ela percebeu a minha expressão de rancor.
- não fiques assim - disse-me - é só um papel...

passei o resto da tarde com esta na cabeça. isto também é só um texto. um coágulo de letras.

É SÓ UM PAPEL É SÓ UM PAPEL É SÓ UM PAPEL É SÓ UM PAPEL É SÓ UM PAPEL É SÓ UM PAPEL

1.2.09

tiro certeiro

que mundo é esse, do outro lado do espelho?

o que é que aí se passa, que tanto me faz gostar de mim, como odiar-me de morte?

é tudo ao contrário, aí? isso existe para fazer uma espécie de simetria com o que vejo aqui?

o que é que acontece quando eu não olho para lá?

será que o reflexo é aquela outra perspectiva que só é real quando eu quero?
que só existe (ou só vejo existir) quando o encaro de frente?

e porque é que não me recuso a olhar? se eu não olhar, é como se não existisse - ponto.

"tu vês o mesmo que eu?"

muito provavelmente, não. e, apesar de tudo, essa não é a resposta para todos os problemas.

eu quis provar que víamos de maneiras diferentes, mas só o pude fazer ficando escondida. olhando através da objectiva. [click] ora, aqui está: é isto que vejo. mas tu não me vês. "porque eu não deixei"