14.11.08

memoirs

quando eu era pequenina, havia uma pergunta que me fartava de ouvir. e ainda hoje ma fazem, muitas vezes. a diferença é que agora já me sinto mais à vontade para responder e, depois de tanto tempo, já tive oportunidades de sobra para chegar a uma conclusão.
"gostas mais de ou de ?"


para mim isto era uma crueldade... soava-me ao mesmo que "gostas mais da tua mãe ou do teu pai?". claro que eu nunca poderia optar por nenhum dos dois, e era mexer demais com a minha ingenuidade de criança fazerem-me uma pergunta dessas. bom, eu gostava do papá porque me ensinava a pintar e fazia-me cafuné para dormir; e gostava da mamã porque me preparava o biberão todas as noites e levava-me a passear ao fim-de-semana. é claro que a lista se estenderia, mas estas seriam as minhas razões principais. no fundo, gostava dos dois o mesmo, tinha um bocadinho de cada um em mim.

de certo modo, era por estas razões que eu nunca me decidia se gostava mais de ou de . eu tinha sempre festa , e só ia uma vez por ano. eu era a portuguesinha e, por isso, tinha todo o protagonismo. sempre fui extrovertida e dada a noitadas, e aí sentia o como a minha casa. mas era que eu passava a maior parte do tempo, e foi que me defini como pessoa. muitas vezes me dizem "ah, que engraçado, tens mesmo jeito de seres de " embora eu ache que isso não faz assim tanto sentido.

um dia, a ver o carnaval do RJ na televisão, perguntei ao meu pai se a avó também andava de rabo à mostra. até que, quando cheguei, deduzi que as pessoas não eram assim tão selvagens e saltitantes como eu imaginava.
fazia-me confusão, em meados da minha infância, ser de dois lugares diferentes, que era o que me acontecia. mesmo não estando sempre , estava sempre com o meu pai (e essa era a razão pela qual eu dizia as palavras como se todas as vogais tivessem acentos - era patético). eu achava que era óbvio as minhas amigas terem de aprender a sambar e a "requebrar" e, por causa disso, a professora da primária queixou-se à minha mãe que eu me comportava de uma forma estranha. e pintava as unhas. com seis anos.

"fala lá brasileiro", pediam-me os meus tios ou amigos dos meus pais. eu detestava que me fizessem isso, sentia-me imensamente envergonhada "o brasileiro é português" dizia eu, de nariz arrebitado. "não, fala com o sotaque de , vá lá!" eles insistiam até eu, por fim, amuar e virar-lhes costas.
faziam-me o mesmo e a minha reacção não mudava. por acaso lá tinham sorte quando esticavam as orelhinhas e me ouviam falar com o meu pai, e eu ficava possessa. mas eles diziam "oh que bonitinho, não dá pra entender nada, é tão rápido!" não me cabia na cabeça que eles não percebessem, pois se era o mesmo idioma! comecei a compreender depois de me perguntarem se as novelas de passavam com legendas.

e enfim, um bocadinho dos dois países foi-se marcando em mim ao longo dos tempos, sendo que entretanto muita coisa mudou. muita coisa mudou, e eu mudei também.
"ah, sei lá" respondia eu "gosto dos dois"
hoje sei que é aqui o meu mundo e o que há são memórias.
não passam de memórias.
e, quem sabe, talvez umas quantas ainda por inventar.

10.11.08

e mais um dia daqueles...

ando especialmente emotiva e piegas.
não sei porquê.
hoje foi um dia que me fez reviver alguns acontecimentos do passado, e hoje é um daqueles dias em que me apetece ficar isolada a ouvir músicas que me façam chorar, que me façam deitar tudo cá para fora. vou acumulando todos os dias um bocado de tristeza. até que, chegando ao meu limite, vou deixando a tristeza sair. ela sai de qualquer forma. seja porque se partiu a minha caneta preferida e começo a chorar como se fosse uma criancinha, ou porque a música que o doggie fez narra um sofrimento que eu quase presenciei, ou porque o depoimento de um ex-toxicodependente reflectiu certos aspectos que se passaram na minha vida.
e pronto, é aí que oiço o meu amigo Chico Buarque de Holanda, cuja voz me soa familiar. reconforta-me. ele diz-me para não chorar. e eu... eu sou desobediente.

9.11.08

amor à primeira vista

começo a deduzir que o amor à primeira vista não existe. não pode existir. é impossível podermos sentir algo tão estrondoso por alguém sem sequer trocarmos impressões. não faz sentido. a minha teoria é que há aqueles "cliques", uns mais fortes que outros, e sentimo-los várias vezes na vida, mesmo que não sejam correspondidos.
parece-me que esses cliques não são nada mais do que a natureza a fazer das suas. fisicamente as pessoas são prisioneiras de diferentes condicionantes que as atraem umas às outras. o que li, um dia, é que um homem e uma mulher têm necessidade de prolongar a sua espécie, como todos os animais. assim sendo, procuram no seu parceiro, involuntariamente (sim, porque não me estou a referir sequer ao aspecto nem à personalidade em questão), as características que no seu organismo são mais "fracas". é também por isso que é tão óbvio que os opostos se atraem.
não quero com isto dizer que os loiros estão para os morenos e os gordos para os magros. acontece que está provado que, por exemplo, se a mulher X tem propensão para ter problemas cardíacos porque faz parte da sua genética, irá inconscientemente atrair-se mais facilmente pelo homem Y que tem uma grande capacidade de resistir aos tais problemas cardíacos. isto tudo para que o bebé Z nasça forte. e assim por diante. a natureza quer lá saber de purpurinas e amor.
a verdade é que sou uma naba a ciência, e não irei aprofundar este tema. como dizia, há muitos "cliques" e, com sorte, um deles poderá resultar numa excelente e duradoura relação, pois os factores físicos e psicológicos estarão todos em consonância. e deve ser aí que falam de amor à primeira vista.
isso é ridículo. parem.
pergunto-me: para que querem as pessoas um amor estável e duradouro?
no outro dia, à conversa com dois amigos, percebi que há pessoas que, com medo da solidão, se agarram a alguém que seja, no mínimo, boa companhia. sou estúpida ao ponto de nunca ter percebido o quão frequentemente isso acontece. basta olhar à minha volta.
talvez tivesse medo da solidão; agora, tenho medo disso. medo de fazer isso, medo que me façam isso. isso não é amor. hoje as pessoas só procuram estabilidade, chegámos a um comodismo que assusta.
a paixão vai e vem, o amor fica. preferia que ficasse a paixão, e o amor fosse e viesse. a paixão é mais cativante. o amor é bonito mas, todos os dias, deve ser lamechas de mais.
quero cometer loucuras por paixão, sentir-me em constante insegurança, aventurar-me com ele pelo mundo, ter discussões como nunca tive, sair fora de mim, amar e odiar sem saber. isso é que me alicia. isso é que, para mim, é para sempre.

4.11.08

dia da maratona

às vezes sabe um bocadinho bem fugirmos às responsabilidades...
"tenho um teste amanhã mas, que se lixe, vou deitar-me no chão do meu quarto enquanto como chocolates e olho para o tecto"
mesmo quando lhes fugimos por coisas parvas.

quando uma tarefa me é imposta, torna-se muito mais pesarosa para mim fazê-la e, de vez em quando, apetece-me esfregar na cara de quem ma impôs que "não fiz porque não me apeteceu", fim. é claro que este meu método é 100% falível, nunca deu bom resultado. talvez para o ego sim, mas apenas a curto prazo.

há dias em que ando a 200 à hora, como o de hoje.
teste de MACS - que é uma coisa ascorosa;
aula de educação física - sem saber onde é que parava a minha mochila que contém todo o material necessário para a dita aula (desenvencilhei-me);
cinco voltas a correr à volta da escola - para avaliação - que, a meu ver, é um atentado à dignidade daqueles que simplesmente não têm estofo para isso (ou seja, eu) ;
meia hora para tomar banho e almoçar com o objectivo de comparecer na reunião da revista da escola, para a qual não tinha preparado devidamente o que me competia (desenvencilhei-me outra vez - 2-0, in your face!);
aula de revisões de filosofia (na próxima é teste) e, logo a seguir, clube da rádio durante uma hora e meia.
e, depois, estando já de noite, seguir sozinha para casa.

terça-feira é o dia impossível. é o dia cansativo, é o "dia desafio", é o dia em que, quando chega ao fim, eu sinto-me sozinha na monotonia do meu tão esperado descanso. e, ponderando bem, é o dia em que me sinto um bocadinho "super-mulher". reparo que sou capaz de tudo, e que tudo pode correr bem.