29.10.08

atchim!

ando há uns dias a pensar em diversos assuntos para postar no blog... e, de facto, até alguns interessantes me vêm à cabeça, mas não sei... não ando inspirada para os passar para o papel. eu bem tento, a sério. então, a pensar para os meus botões, perguntei-lhes: "e porque é que não hei de simplesmente escrever o que sinto?" eles não me responderam, como sempre, e eu aceitei isso como um consentimento.
estes dois últimos dias trouxeram um frio infernal - ahah, que contradição engraçada. o termómetro hoje marcou 17ºc (pareciam 5ºc!) e andamos todos encasacados até ao tutano. eu principalmente, porque o que me fazia menos falta agora era uma constipação. é claro que a minha alergia não se esqueceu de mim e, mais uma vez, depois de um ano, apareceu. não sei a que é que sou alérgica, mas há de ser a alguma coisa que se faz sentir todos os anos em novembro e que, certamente, será dispensável para a sociedade.
estou em época de testes e, para além de estar sem inspiração, a estúpida da alergia dá-me sono. como se não bastasse, traz-me também duas toneladas de areia na cabeça e no nariz (que me fazem muita comichão). não consigo ler uma página sem espirrar quinze vezes. como é que hei de estudar?!
vá lá, eu até gosto do frio, principalmente porque tenho um aquecedor no meu quarto. as luzes de natal já estão quase todas preparadas (não sei quando é que as acendem); o cheirinho a castanha paira nas ruas atafulhadas do centro da cidade; anoitece mais cedo e ando a sentir mais frequentemente vontade de beber chocolate quente. hmm, o inverno é bom, sim! se pudermos fazer dele acolhedor; se pudermos arranjar uma maneira de contrastar com o lá fora; se, estando frio, estivermos quentinhos (ou com quem nos aqueça, hehe); se bebermos chocolate quente, E, SOBRETUDO, SE NÃO ESTIVERMOS A ESPIRRAR SEM PARAR!


PS: obrigada a todos os que votaram nesta enquete - passagem de ano! como é que vai ser a tua? (total de 12 votos) não se esqueçam de votar na próxima! aqui têm os resultados:

em família
(8%)

selvagem, com amigos
(25%)

tranquila, poucos mas bons
(33%)

não vai ser
(8%)

não sei, não perco tempo em sondagens
(25%)

23.10.08

criar laços... ninguém se lembra

saiu do autocarro, entretida nos seus encantos mentais, quando notou na paisagem algo que não estava igual a ontem. mas o que seria aquilo, que nao tinha ouvido comentar pelo bairro? nem se perguntou se deveria. simplesmente entrou.
aquele espaço já tinha tido todos os efeitos, ou quase. nunca acabava bem. também, naquela rua escondida de lisboa, ninguém tem o especial objectivo de esvaziar a carteira.
já tinha sido loja de animais, de congelados, clube de vídeo (tinham gomas e tudo!) e igreja chinesa. nunca visitou nenhuma. deixava sempre pra depois. até que, quando dava por ela, o espaço já tinha sido esvaziado novamente. pobres e ignorantes comerciantes. se pudesse, teria colado um efémero aviso na porta: "não arrendem, negócio fraco e estadia curta!" mas nunca se permitiu a tal ousadia.
desta vez, aproveitaria a chance. queria ter algo para contar na primeira pessoa, um dia mais tarde, quando os ingénuos vendedores, mais uma vez, se fossem embora de mãos a abanar.
observou o espaço - Centro de Estudos - "não percebo como é que vão lucrar alguma coisa de jeito com isto". parece que a juventude, no geral, perdeu o gosto de estudar. de facto, a juventude nunca teve grande prazer em estudar. é legítimo, já que a juventude está em constante metamorfose e cada um se apercebe a falta que o estudo faz, a seu tempo, numa idade póstuma; aí, não têm outro remédio senão ralhar com os filhos para que estes estudem.
o Centro de Estudos tinha bom aspecto. mas não dava vontade de estudar.
uma rapariga chegou-se ao balcão, radiante. devia pensar que era a primeira cliente, já ouvia as moedas a tilintar, mas não era bem assim. de sorriso bem marcado, quase cantou:
- em que lhe posso ser útil? - fez uma pausa. - este é o centro de estudos, tem à sua disposição diversos livros e enciclopédias de história, física, química... - reparando que se estava a estender mais do que lhe seria pedido, rapidamente se acalmou e ofereceu um panfleto. - está aqui tudo. - foi observada atentamente. pelo emblema, chamava-se Helena e teria os seus vinte anos. como resposta, recebeu uma mão e um:
- olá, eu sou a Catarina. - pasmou-se. sorriu, estendeu a mão.
- Helena, muito prazer.
- não gosto especialmente de estudar. mas, como imagino que não conheça ninguém na zona, ofereço-me para criar laços consigo. assim, quando perceber que o negócio deu para o torto, ao menos não sai daqui de mãos a abanar. visto que não temos uma grande diferença de idades, tratá-la-ei por tu, e peço-lhe que faça o mesmo.
Helena sorriu, surpreendida, sem reacção verbal.
- ah, e gosto muito de chocolate. - continuou Catarina - que é que achas de tirares quinze minutos para irmos tomar um café?
Helena assentiu, e seguiram as duas pela rua.



dou-me ao trabalho de criar a história toda, embora seja ficcional. porque é que temos sempre tanto medo de criar laços? eu passei pela loja e segui adiante, para casa.

22.10.08

sono

fico invadida pela inspiração, à medida que devoro as páginas do livro que estou a ler, as descrições fazem com que emoções me afluam à flor da pele, rigorosas e abruptas. todas as minhas acções, involuntariamente, passam por um filtro na minha mente, onde são cuidadosamente descritas. é o meu escape. não sei se sou a única.

vou de manhã pelo caminho apressado até ao metro, onde sinto necessidade de contemplar tudo o que vejo. no entanto, não desperta. todas as manhãs, um frio de rachar, o sol ainda não marca presença e a cidade ainda está a acordar, lá vou eu, enfiada no meu livro mental, afundada na solidão dos meus pensamentos. mesmo assim, ainda há espaço na minha cabeça para se fazerem ouvir os meus passos, pesados como marteladas, desengonçados, sem ritmo, cortando o silêncio matinal.

atiro sobre a mesa todas as cartas com que jogo, e tudo o que faço já é automático. sigo apressada, penetro a confusão urbana; carros, pessoas, buzinas. de repente, estou na escola e as cartas recolhem-se.

começa mais um dia